Colonialidade e gênero no romance Eu, Tituba: bruxa negra de Salem, de Maryse Condé
Resumo
Este artigo busca compreender experiências da colonialidade ou, mais precisamente, do que María Lugones (2008) caracteriza como colonialidade de gênero, mediante leitura do romance Eu, Tituba: bruxa negra de Salem, de Maryse Condé (2019). Como recorte necessário ao texto literário, partimos de um exame específico da narradora-protagonista Tituba, em passagens nas quais se observa seus deslocamentos entre fronteiras (físicas e imaginárias) de uma modernidade europeia recém-instalada nas ilhas caribenhas dos anos finais do século XVII e iniciais do século XVIII. Supomos que a mulher negra, uma vez reduzida à animalidade, ao sexo forçado e à escravização, se mostra parte constitutiva de um regime de violência próprio ao sistema colonial-moderno de gênero, ao que se mostraria relevante examinar, a partir das experiências de Tituba no contexto da primeira modernidade, como se constroem, de maneira hegemônica, o gênero e suas relações. Este trabalho fundamenta-se nas premissas teóricas da noção de colonialidade do gênero, de María Lugones (2005; 2008; 2014).
Downloads
Referências
ALVES, Alcione. Notas introdutórias sobre a noção de ancestras em Yolanda Arroyo Pizarro. In: MENDES, Algemira de Macêdo; LOPES, Sebastião Alves Teixeira. (org.). Teias e tramas: literaturas e discursos de gênero. Teresina: Edufpi, 2015. p. 14-31.
ANZALDÚA, Gloria. Falando em línguas: uma carta para as mulheres escritoras do terceiro mundo. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 8, n. 1, p. 229-236, 1. sem. 2000.
BAIRROS, Luiza. Nossos feminismos revisitados. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 3, n. 2, p. 458-463, 2. sem. 1995.
BERNADINHO-COSTA, Joaze; GROSFOGUEL, Rámon. Decolonialidade e perspectiva negra. Revista Sociedade e Estado, Brasília, v. 31, n. 1, p. 15-24, jan./abr. 2016.
CARDOSO, Claudia Pons. Outras falas: feminismos na perspectiva de mulheres negras brasileiras. 2012. 383 f. Tese (Doutorado em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gêneros e Feminismo) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2012.
CARNEIRO, Sueli. Enegrecer o feminismo: a situação da mulher negra na América latina a partir de uma perspectiva de gênero. Geledés Instituto da Mulher Negra, São Paulo, 06 mar. 2011. Disponível em: http://www.geledes.org.br/sueli-carneiro-enegrecer-o-feminismo-a-situacao-da-mulher-negra-na-america-latina-a-partir-de-uma-perspectiva-de-genero. Acesso em: 26 fev. 2021.
CARNEIRO, Sueli. A construção do outro como não ser como fundamento do ser. Tese (doutorado em Educação). São Paulo: Universidade de São Paulo, 2005, p. 96-110.
COLLINS, P. H. Rasgos distintivos del pensamento feminista negro. In: JARBADO, Mercedes (org.). Feminismos negros: una antologia. Tradução de Mijo Miquel et al. Madrid: Traficantes de Sueños, 2012. p. 99-134.
CONDÉ, Maryse. Eu, Tituba: bruxa negra de Salem. Tradução de Natalia Borges Polesso. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2019.
DUSSEL, Henrique. Europa, modernidade e eurocentrismo. In: LANDER, Edgardo (org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, set. 2005. Disponível em: http:// www.antropologias.org/rpc/files/downloads/2010/08/Edgardo-Lander-org-A-Colonialidade-do-Saber-eurocentrismo-e-ci%C3%AAncias-sociais-perspectivas-latinoamericanas-LIVRO.pdf. Acesso em: 18 jan. 2021.
ESPINOSA MIÑOSO, Yuderkys. Una crítica descolonial a la epistemología feminista crítica. El cotidiano, México, n. 184, p. 7-12, mar/abr. 2014.
GAZTAMBIDE-GEIGEL, Antonio. La invención del Caribe en el siglo XX. Las definiciones del Caribe como problema histórico y metodológico. Revista Mexicana del Caribe, v. 3, n. 7, 1996, p. 74-96.
GENETTE, GERARD. Discurso da narrativa. Tradução de Fernando Cabral Martins. Lisboa: Veja, 1971.
GLISSANT, Édouard. Le discours antillais. Paris: Gallimard, 1997.
GLISSANT, É. O Mesmo e o Diverso; Técnicas. Tradução de Normelia Parise. Antologia de textos fundadores do comparatismo literário interamericano. Comentário de Graciela Ortiz. Disponível em: https://www.ufrgs.br/cdrom/glissant/index.htm.
GONZÁLEZ, Lélia. A categoria político-cultural da Amefricanidade. In: GONZÁLEZ, Lélia. Primavera para as rosas negras: Lélia González em primeira pessoa. Diáspora Africana: Editora Filhos da África, 2018, p. 321-334.
GROSFOGUEL, Rámon. Para descolonizar os estudos de economia política e os estudos pós-coloniais: Transmodernidade, pensamento de fronteira e colonialidade global. Revista crítica de ciências sociais, n. 80, p. 115-147, mar. 2008.
HOOKS, Bell. Mujeres negras: dar forma a la teoría feminista. In: HOOKS, bell et al. Otras inapropriables. Feminismos desde las fronteras. Traducción de Maria Serrano Gimenez et al. Madrid: Traficantes de sueños, 2004.
HOOKS, Bell. Não sou eu uma mulher: mulheres negras e feminismo. Lisboa: Plataforma Gueto, 2014.
LUGONES, María. Colonialidad y género. Tabula Rasa, Bogotá, n. 9, p. 73-101, jul/dic. 2008. Disponível em: http://www.revistatabularasa.org/numero-9/05lugones.pdf. Acesso em: 2 mar. 2021.
LUGONES, María. Multiculturalismo radical y feminismos de mujeres de color. Revista Internacional de Filosofía Política, México, n. 25, p. 61-76, 2005. Disponível em: http://www.redalyc.org/pdf/592/59202503.pdf. Acesso em: 02 mar. 2021.
LUGONES, María. Rumo a um feminismo descolonial. Revista Estudos feministas, Florianópolis, v. 22, n. 3, p. 935-952, set/dez. 2014.
MALDONADO-TORRES, Nelson. Sobre la colonialidad del ser: contribuciones al desarrollo de un concepto. In: CASTRO-GÓMEZ, Santiago.; GROSFOGUEL, Ramón. (org.). El giro decolonial: reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Iesco Pensar-Siglo del Hombre Editores, 2007.
MBEMBE, Achille. Necropolítica. São Paulo: N-1 Edições, 2018.
MENDOZA, Breny. La epistemología del sur, la colonialidad del género y el feminismo latino-americano. In: MIÑOSO, Yuderkys Espinosa; CORREAL, Diana Gómez; MUÑOZ, Karina Ochoa (org.). Tejiendo de otro modo: Feminismo, epistemología y apuestas descoloniales en Abya Yala. Popayán: Editorial Universidad del Cauca, 2014.
MIGNOLO, Walter D. Histórias locais/projetos globais: Colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar. Tradução de Solange Ribeiro de Oliveira. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2020.
MILAGROS, Martínez Reinosa; GARCÍA, Félix Valdés. ¿De qué Caribe hablamos? In: SALAZAR, Luis Suárez; AMÉZQUITA, Gloria. El gran Caribe en el siglo XXI: crisis y respuestas. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: CLACSO, 2013, p. 21-33. Disponível em: http://biblioteca.clacso.edu.ar/clacso/gt/20130628121000/ElGranCaribe.pdf. Acesso em: 23 dez. 2021.
NAVARRETE, Julio Mejía. Colonialidad y des/colonialidad en América Latina: elementos teóricos. Geografhia, v. 15, n. 30, p. 8-32, 2014.
NAVARRO, Romulo F. A evolução dos materiais. Parte II: a contribuição das civilizações pré-colombianas. Revista Eletrônica de Materiais e Processos, v. 3.l, p. 15-25, 2008.
OLIVEIRA, Jônata Alisson Ribeiro de. A resistência ao olho do poder: rastro, gênero e colonialidade no romance Eu, Tituba, feiticeira... negra de Salem, de Maryse Condé. 82f. Dissertação (Mestrado em Letras). Universidade Federal do Piauí. Teresina, 2016. Disponível em: https://repositorio.ufpi.br/xmlui/handle/123456789/1164. Acesso em: 23 dez. 2021.
QUIJANO, Aníbal. Colonialidad y Modernidad/racionalidade. Perú Indígena, v.13, n. 29, p. 11-20, 1992. Disponível em: https://pt.scribd.com/doc/70586547/Quijano-Colonialidad-y-Modernidad-1992. Acesso em 18 jan. 2021.
QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, Edgardo (org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, set. 2005. Disponível em: http://www.antropologias.org/rpc/files/downloads/2010/08/Edgardo-Lander-org-A-Colonialidade-do-Saber-eurocentrismo-e-ci%C3%AAncias-sociais-perspectivas-latinoamericanas-LIVRO.pdf. Acesso em: 18 jan. 2021.
SANTOS, Vívian Matias dos. Notas desobedientes: decolonialidade e a contribuição para a crítica feminista à ciência. Psicologia & Sociedade, Belo Horizonte, v. 30, p. 1-11, 2018.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Para além do Pensamento Abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes. Revista Crítica de Ciências Sociais, n. 78, p. 3-46, 2007.
SCOTT, Joan. A história das mulheres. In: BURKE, Peter (org.). A escrita da história: novas perspectivas. Tradução de Magda Lopes. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1992.
TRUTH, Sojourner. E eu não sou uma mulher? Porto Alegre: Figura de Linguagem, 2019.
WERNECK, Jurema. Nossos passos vêm de longe! Movimentos de mulheres negras e estratégias políticas contra o sexismo e o racismo. Revista da ABPN, v. 1, n. 1, p. 1-11, mar/jun. 2010. Disponível em: http://www.abpn.org.br/Revista/index.php/edicoes/article/viewFile/20/22. Acesso em: 11 mar. 2021.
WYNTER, Sylvia. 1492: una nueva visión del mundo. In: GARCÍA, Felix Valdés (org.). Antología del pensamiento crítico caribeño contemporâneo. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: CLACSO, 2017, p. 367-430. Disponível em: http://biblioteca.clacso.edu.ar/clacso/se/20170707025855/AntologiaDePensamientoCriticoCaribeno.pdf. Acesso em: 29 set. 2021.
Copyright (c) 2022 Editora PUC Minas
This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
O envio de qualquer colaboração implica, automaticamente, a cessão integral dos direitos autorais à PUC Minas. Solicita-se aos autores assegurarem:
- a inexistência de conflito de interesses (relações entre autores, empresas/instituições ou indivíduos com interesse no tema abordado pelo artigo), e
- órgãos ou instituições financiadoras da pesquisa que deu origem ao artigo.
- todos os trabalhos submetidos estarão automaticamente inscritos sob uma licença creative commons do tipo "by-nc-nd/4.0".