Colonialidade e gênero no romance Eu, Tituba: bruxa negra de Salem, de Maryse Condé

  • Alcione Correa Alves UFPI
  • Jonata Alisson Ribeiro de Oliveira
Palavras-chave: Maryse Condé: romance, Colonialidade de gênero, Literaturas amefricanas, Feminismo negro

Resumo

Este artigo busca compreender experiências da colonialidade ou, mais precisamente, do que María Lugones (2008) caracteriza como colonialidade de gênero, mediante leitura do romance Eu, Tituba: bruxa negra de Salem, de Maryse Condé (2019). Como recorte necessário ao texto literário, partimos de um exame específico da narradora-protagonista Tituba, em passagens nas quais se observa seus deslocamentos entre fronteiras (físicas e imaginárias) de uma modernidade europeia recém-instalada nas ilhas caribenhas dos anos finais do século XVII e iniciais do século XVIII. Supomos que a mulher negra, uma vez reduzida à animalidade, ao sexo forçado e à escravização, se mostra parte constitutiva de um regime de violência próprio ao sistema colonial-moderno de gênero, ao que se mostraria relevante examinar, a partir das experiências de Tituba no contexto da primeira modernidade, como se constroem, de maneira hegemônica, o gênero e suas relações. Este trabalho fundamenta-se nas premissas teóricas da noção de colonialidade do gênero, de María Lugones (2005; 2008; 2014).

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Biografia do Autor

Jonata Alisson Ribeiro de Oliveira

Graduado em Letras - Língua Portuguesa e Literatura brasileira e portuguesa (2013) e mestrado em Letras (2016), ambas titulações obtidas pela Universidade Federal do Piauí. Especialista em Africanidades e Cultura Afro-Brasileira.

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Publicado
11-01-2022
Como Citar
ALVES, A. C.; OLIVEIRA, J. A. R. DE. Colonialidade e gênero no romance Eu, Tituba: bruxa negra de Salem, de Maryse Condé. Scripta, v. 25, n. 55, p. 518-551, 11 jan. 2022.