Sequência textual e uso de construções conclusivas

Palavras-chave: Construção Conclusiva, Sequência Textual, Estudo Diacrônico

Resumo

As construções conclusivas do português são representadas pelo esquema [Segmento 1 CONECTOR Segmento 2], em que o slot CONECTOR pode ser preenchido por diversos conectores, dentre eles, “portanto”, “por isso”, “logo” e “então”. Apesar de essas quatro construções serem, de maneira geral, consideradas sinônimas na expressão da relação de conclusão, tendo em vista o princípio de não sinonímia (Goldberg, 1995; Croft, 2001), é possível pressupor que haja diferenças de sentido entre elas, o que motivaria o falante a usar uma forma e não outra(s) em determinados contextos. Assim, o objetivo deste estudo é investigar a influência do segmento discursivo mais amplo na escolha pela construção. Em outras palavras, buscamos verificar a possível correlação entre sequência textual (Paredes Silva, 1997; Adam, 2008; Arena, 2008; Vieira, 2016) e construção conclusiva. Por se tratar de construções existentes na língua desde registros mais remotos (Martelotta; Silva, 1996; Barreto, 1999; Longhin-Thomazi, 2006; Oliveira, 2011; Floret, 2022), analisamos suas trajetórias em três períodos da história do português: período arcaico, clássico e moderno/contemporâneo (Mattos e Silva, 1994, 2007; Castro, 2013). Os dados foram coletados em uma amostra com textos representativos desses três períodos, e analisados estatisticamente no programa GoldVarbX (Sankoff; Tagliamonte; Smith, 2005). Os resultados encontrados apontam evidências favoráveis de que a sequência textual é um dos fatores que motivam a escolha de construções específicas. Há correlação entre conectores adverbiais e sequências narrativas, assim como entre conectores preposicionais e sequências expositivas.

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Biografia do Autor

Mayra França Floret, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Doutora e mestre em Linguística (UFRJ). Professora adjunta na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

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Publicado
31-10-2024
Como Citar
FLORET, M. F. Sequência textual e uso de construções conclusivas. Scripta, v. 28, n. 62, p. 238-262, 31 out. 2024.