A tradução radical e alguns problemas para a linguística:

um ensaio

Palavras-chave: Indeterminação da Tradução, Sentido, Referência, Willard Van Orman Quine

Resumo

Este ensaio tem como objetivo mostrar como a reflexão de Willard Van Orman Quine sobre a indeterminação da tradução pode ser interessante para pensar a reflexão linguística, englobando tanto a descrição de línguas quanto as teorizações do campo. Em um primeiro momento, apresento em linhas gerais a ideia de indeterminação da tradução de Quine (1960), desenvolvida em sua reflexão sobre a experiência de tradução radical. Em seguida, busco colocar as ideias de Quine em contato com a prática linguística a partir de alguns exemplos retirados do livro Don’t sleep, there are snakes (2008), no qual Daniel Everett relata sua experiência de viver com os Pirahã, buscando descrever a sua língua. Cito como exemplos a dificuldade de Everett em encontrar numerais em pirahã e a sua tradução proposta para o termo kagi, além do princípio que o linguista postula para explicar fatos linguísticos e culturais, para mostrar como a reflexão de Quine sobre a indeterminação da tradução é importante para pensar a prática linguística. Concluo que a discussão sobre sentido e referência na filosofia, e as formulações de Quine em particular, podem ser de grande valia para pensar a reflexão linguística, que embora tente escantear a relação da língua com o mundo de seu escopo, sempre acaba por se deparar com esse fato e com suas consequências teóricas e metodológicas.

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Biografia do Autor

Larissa Colombo Freisleben, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Doutoranda em Estudos da Linguagem pelo PPG Letras-UFRGS. Licenciada em Letras – Português e Francês pela mesma instituição.

Referências

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SAUSSURE, F. Natureza do signo linguístico. In.: SAUSSURE, F. Curso de Linguística Geral. São Paulo: Cultrix, 2012
Publicado
31-10-2024
Como Citar
FREISLEBEN, L. C. A tradução radical e alguns problemas para a linguística:. Scripta, v. 28, n. 62, p. 263-283, 31 out. 2024.