O intelectual em São Bernardo: Agregar
Resumo
O artigo descreve Paulo Honório, o narrador do romance São Bernardo (1934), como sendo um intelectual. Assim, partindo de proposições tomadas à fortuna crítica de Graciliano Ramos, se propõe aprofundar algumas noções consagradas sobre este romance do autor. Nesse sentido, as leituras que atribuem ao romance a condição de ficção autobiográfica (MIRANDA, 1992) e de confissão (CANDIDO, 1992 e MOURÃO, 1969) são instrumentalizados para identificar, dentro de um artefato iminentemente ficcional que é São Bernardo, elementos que situariam seu narrador como uma pessoa que escreve efetivamente uma autobiografia com teor altamente confessional. Para tanto, o conceito de confissão (FOUCAULT, 1988) é utilizado para aprofundar a noção de “descontrole” (LAFETÁ, 1977), ideia estruturante para se compreender o romance. O fito é alcançar uma descrição do público leitor que seria o leitor da autobiografia confessional escrita pelo narrador, ao mesmo tempo em que se explicitaria esse narrador como sendo um escritor intelectual que, ao eleger o público literário como interlocutor de sua confissão, faz um elogio da palavra escrita, da literatura e da vida pública como lócus de resolução de problemasDownloads
Referências
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