“O profeta”, de Samuel Rawet: moldura narrativa, corte cinematográfico e cena expressionista

Palavras-chave: Literatura brasileira, Conto, Imigração, Intermidialidade, Artes plásticas.

Resumo

 Este artigo trata dos modos de construção do conto “O profeta”, de Samuel Rawet, a partir da leitura de algumas referências intermidiáticas. Analisam-se a epígrafe, como um procedimento antecipatório e modular do conto; as imagens que convidam à leitura de elementos picturais, como as que sintetizam a viagem do imigrante e as visões da guerra oriundas do domínio expressionista, em comparação com a obra do pintor Lasar Segall; e os cortes e a montagem que indicam procedimentos cinematográficos. Tais processos apontam, segundo esta análise, para a forma seccionada como é visto o imigrante, para a disrupção da sua figura na sociedade receptora e para a dificuldade que ele encontra de partilhar a experiência da guerra. O conto enfatizaria a impossibilidade de reconhecer a inteireza do estrangeiro na condição de imigrante por meio de recursos elípticos e sinedóquicos.

 

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Biografia do Autor

Maria Isabel Edom Pires, Universidade de Brasília

Docente do Departamento de Teoria Literária e Literaturas da Universidade de Brasília. 

 

Maria Zilda Ferreira Cury, UFMG
Docente do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da UFMG.

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Publicado
23-10-2017
Como Citar
PIRES, M. I. E.; CURY, M. Z. F. “O profeta”, de Samuel Rawet: moldura narrativa, corte cinematográfico e cena expressionista. Scripta, v. 21, n. 42, p. 274-294, 23 out. 2017.
Seção
VOLUME 21 / NUMERO 42 - 2017 - Exílios e diásporas na literatura

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