POESIA E PERIFERIA: vozes marginais nos saraus literários do Coletivoz e na poesia de Sérgio Vaz

Resumo

O presente artigo objetiva investigar a nova poesia marginal brasileira, afastando-se, de certa forma, da concepção de poesia marginal produzida na década de 1970, no contexto da ditadura militar, quando se produziu uma literatura por poetas que eram, segundo Hollanda, “marginais da vida política do país, marginais do mercado editorial, e, sobretudo, marginais do cânone literário” (HOLLANDA, 2014, s/p). A poesia marginal, objeto de estudo desta pesquisa, consiste naquela produzida, a partir dos anos 1990, por sujeitos de um determinado perfil sociológico, conforme elucida Nascimento (2009, p. 42): minorias à margem dos grandes centros geográficos das cidades, do consumo de bens econômicos e culturais e da participação político-social. É, pois, esse contexto, em que surgem as mobilizações culturais coletivas que buscam expressar e materializar as visões de mundo desses sujeitos marginais que nortearam a investigação pretendida. Esses movimentos, caracterizados por uma sublevação intelectual marcadamente politizada, têm a pretensão de denunciar ou evidenciar as discrepâncias sociais (oni)presentes nas periferias, constituindo-se em espaços onde se busca estabelecer uma identidade coletiva. Nesse sentido, pretendemos analisar os discursos materializados nos saraus artístico-literários da periferia por meio de um estudo de caso dos saraus do Coletivoz, em Belo Horizonte, tomado como cena cultural em que os textos poéticos são construídos. Discutiremos, então, como se dá o trânsito de vozes (outrora) marginalizadas, em diálogo com uma obra também resultante desse tipo de movimento: Colecionador de Pedras (2013), de Sérgio Vaz. Para esta pesquisa, realizamos nossa coleta de dados a partir de entrevistas e gravações, participando dos saraus do Coletivoz ocorridos entre julho de 2014 e março de 2015.