PODER E VIOLÊNCIA NOS PENSAMENTOS DE HANNAH ARENDT E WALTER BENJAMIN
DOI:
https://doi.org/10.5752/P.1678-3425.2023v8n14p125-140Palavras-chave:
Arendt, Benjamin, Violência, Poder, Violência míticaResumo
Neste artigo procuramos elaborar um diálogo improvável entre as concepções arendtiana e benjaminiana da violência, procurando primeiro entender a separação conceitual entre Violência e Poder e os pressupostos que estão colocados nesta abordagem encontrada no ensaio On Violence e alguns outros textos de Hannah Arendt. A autora entende que toda violência é instrumental, enquanto o poder não se manifesta da mesma forma. Arendt procura traçar uma crítica ao mal-entendido de que para haver poder é preciso que haja violência. Para fundamentar este posicionamento conceitual, Arendt visita as concepções greco-romanas de civitas e isonomia e conclui que os revolucionários do século XVIII se equivocaram acerca da noção de obediência. Em seguida, buscando entender a concepção benjaminiana de Gewalt, sinônimo tanto de violência quanto de poder, observamos o exemplo e a distinção entre dois tipos de greve que adotam estratégias diferentes diante do poder coercivo do estado, portanto duas diferentes Práxis: uma, nomeada por greve geral política, cuja ação se compreende como meio para fins de direito e que, portanto, na concepção benjaminiana é violenta; e outra cujos fins não são de direito e que, portanto, seria uma concepção não violenta. Benjamin, além de não distinguir violência e poder, concebe a forma jurídica estatal como uma forma violenta e que procura monopolizar os usos da violência desautorizando quaisquer outras formas de sua manifestação. Os argumentos benjaminianos se encaminham para uma concepção mítica de manifestação da violência a isto se ligando concepções próprias encontradas tanto em Para a crítica da violência quanto outros escritos da década de 1920 e cuja forma mais geral é formulada na oposição entre mito e história. À guisa de conclusão, arriscamos algumas considerações aproximativas entre estes dois autores.
Downloads
Referências
ARANTES, Paulo. Benjamin a(?) um minuto do fim. YouTube, 2020. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-FJXkQcdfio.
ARENDT, Hannah. Between Past and Future: Six exercices in political thought. New York: The Viking Press, 1961.
ARENDT, Hannah. Crises of the Republic. New York. A Harvest Book Harcourt Brace & Company, 1972.
ARENDT, Hannah. Crises da República. Tradução de José Volkmann. São Paulo: editora Perspectiva, 2017.
ARENDT, Hannah. Eichmann em Jerusalém: uma análise sobre a banalidade do mal. Tradução de José Rubens Siqueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
ARENDT, Hannah. O que é política? Organização Ursula Ludz. Tradução de Reinaldo Guarany e Kurt Sontheimer. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2018.
ARENDT, Hannah. On Revolution. London: Penguin Books, 1990.
ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. Tradução de Roberto Raposo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
ARENDT, Hannah. Responsibility and Judgment. New York: Schocken Books, 2003.
ARENDT, Hannah. Sobre a violência. Tradução de André Duarte. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2011.
ARENDT, Hannah. Walter Benjamin: 1892-1940. In: ARENDT, Hannah. Homens em Tempos Sombrios. Tradução de Denise Bottmann; Posfácio de Celso Lafer. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
BENJAMIN, Walter. Escritos sobre mito e linguagem. Tradução de Ernani Chaves. São Paulo: editora 34, 2013.
BENJAMIN, Walter. “As Afinidades Eletivas” de Goethe. In: BENJAMIN, Walter. Ensaios reunidos: escritos sobre Goethe. Tradução de Mônica Krausz Bornebusch, Irene Aron e Sidney Camargo. São Paulo: Duas Cidades, ed.34, 2018.
BENJAMIN, Walter. Documentos de cultura, Documentos de Barbárie: escritos escolhidos. Seleção e apresentação Willi Bolle. Tradução de Celeste H. M. Ribeiro de Souza (et al). São Paulo: Cultrix, editora da universidade de São Paulo, 1986.
DERRIDA, Jacques. Força de Lei: o “fundamento místico da autoridade”. Tradução de Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Martins Fontes, 2018.
DUARTE, André. O pensamento à sombra da ruptura: política e filosofia em Hannah Arendt. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
FRY, Karina A. Compreender Hannah Arendt. Tradução de Paulo Ferreira Valério. Petrópolis: Vozes, 2010.
GILLOCH, Graem (org.) Walter Benjamin: critical constellations. Oxford: Blackwell Publishers, 2002.
COLLOQUY. Melbourne: Monash University, v. 1, n. 16, dez. 2008. Semestral. Disponível em: www.colloquy.monash.edu.au/issue16.pdf. Acesso em: 20 jul. 2021.
LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos humanos: a contribuição de Hannah Arendt. Estudos Avançados [online]. 1997, v. 11, n. 30, pp. 55-65. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103-40141997000200005. Acesso em: 26 de Ago. de 2021.
MORAN, Brendan; Salzani, Carlo (org). Towards the critique of violence: Walter Benjamin and Giorgio Agamben. London: Bloomsburry Publishing, 2015.
RANGEL, Marcelo. A História e o impossível: Walter Benjamin e Derrida. Rio de Janeiro: Ape´Ku, 2020. (Coleção X)
TORRES, Ana Paula Repolês. Direito e Política em Hannah Arendt. São Paulo: edições Loyola, 2013.
VERNANT, Jean Pierre. Cosmogonias e Mitos de Soberanias. In: VERNANT, Jean Pierre. As Origens do pensamento grego. Tradução de Ísis Borges B. da Fonseca. Rio de Janeiro: Difel, 2005.