O rastro da morte
um estudo sobre os impactos do agronegócio brasileiro sobre a perspectiva de Achille Mbembe
DOI:
https://doi.org/10.5752/P.1678-3425.2024v9n17p208-227Palavras-chave:
Necropolítica, Agronegócio, Política de morteResumo
o presente trabalho aborda o elo indissociável entre a necropolítica de Achille Mbembe e a gestão do agronegócio brasileiro. Nesse contexto, desenvolvida sob a égide dos conceitos de Michel Foucault, a saber, da biopolítica e do biopoder, a necropolítica representa a gestão de morte destinada às minorias pelos governos neoliberais. Assim, os corpos que não são rentáveis ao sistema capitalista, são deixados para morrer. Nesse sentido, objetivou-se evidenciar que a necropolítica de Mbembe é utilizada pelo governo brasileiro no âmbito do agronegócio como instrumento de morte de populações marginalizadas. Partindo da premissa suscitada, usou-se do método dedutivo e da pesquisa bibliográfica do tipo qualitativa para relatar medidas e ações do Estado brasileiro que impactaram diretamente a constituição do “agro-tóxico” e propiciaram o rastro de morte ocasionado por este. Dessa maneira ressalta-se como principais resultados, que moldado sob a ótica histórica do latifúndio monocultor e tóxico, o agronegócio, nos moldes em que está instituído, salienta conflitos pela posse de terra, o intenso desmatamento, a morte dos povos originários, o envenenamento do povo e do solo por agrotóxicos e a fome generalizada, se perpetuando como mola propulsora para a consolidação de comunidades “mortas-vivas”.
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