Os Sertões

a epopeia fundadora da República brasileira

Autores

  • Júlio Aguiar de Oliveira Doutor em Filosofia do Direito pela UFMG. Professor da Graduação e do PPGD em Direito da PUC Minas Professor da Graduação em Direito da UFOP

DOI:

https://doi.org/10.5752/P.1678-3425.2025v10n19p99-112

Palavras-chave:

Os Sertões, Forma épica, Genocídio, Crítica literária dialética

Resumo

Este artigo analisa Os Sertões (1902) de Euclides da Cunha como a epopeia fundacional do Estado brasileiro moderno, argumentando no sentido de sustentar que a obra não é essencialmente um relato jornalístico da Guerra de Canudos, acompanhado de uma descrição objetiva dos sertões e de sua gente, mas a narrativa épica, em prosa poética, do nascimento violento da República do Brasil através do genocídio sistemático de uma parte do seu próprio povo. Como a Ilíada de Homero cantou a destruição de Troia e estabeleceu os valores da civilização grega, Os Sertões canta a destruição de Belo Monte e estabelece os padrões de violência, exclusão e extermínio que definem a moderna sociedade brasileira. A análise apoia-se sobre os conceitos de “forma” (Roberto Schwarz) e “realidade histórica pertinente” (Antonio Candido). A leitura de Os Sertões como uma epopeia, fundamental para sua compreensão, se contrapõe a sua leitura como tragédia ou como texto jornalístico objetivo, no qual, entre outras coisas, se inserem denúncias dos crimes cometidos pelo Exército brasileiro em Canudos. Não há contradição ou ambiguidade real na obra. Quando se atenta para a forma épica da obra, o que se revela é o registro poético da vitória da civilização, representada pelo Exército, como braço da República, sobre a barbárie, representada pelo povo de Belo Monte e Antônio Conselheiro.

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Publicado

2025-10-23

Como Citar

OLIVEIRA, Júlio Aguiar de. Os Sertões: a epopeia fundadora da República brasileira. Virtuajus, Belo Horizonte, v. 10, n. 19, p. 99–112, 2025. DOI: 10.5752/P.1678-3425.2025v10n19p99-112. Disponível em: https://periodicos.pucminas.br/virtuajus/article/view/36812. Acesso em: 12 nov. 2025.

Edição

Seção

Dossiê Direitos Constitucionais e Soberania