Palmares e Belo Monte

Um ensaio sobre a guerra permanente contra quilombolas e camponeses no Brasil

Autores

  • Isadora de Oliveira Costa e Silva Mestranda em Teorias do Direito e da Justiça pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da PUC Minas – PPGD. O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.
  • Joaquim Leonardo Lopes Louzada de Freitas Graduado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica – PUC Minas. Doutorando em Teorias do Direito e da Justiça pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da PUC Minas – PPGD.

DOI:

https://doi.org/10.5752/P.1678-3425.2025v10n19p183-202

Palavras-chave:

Palmares, Belo Monte, Racialização do inimigo interno, Resistência insurgente

Resumo

O artigo analisa a continuidade histórica de uma guerra permanente contra comunidades insurgentes, exemplificada por Palmares e Belo Monte, e desloca o foco para a função operacional da mestiçagem enquanto nova categoria de racialização que torna a violência estatal mais sofisticada e menos visível. Demonstrar-se-á que o genocídio e epistemicídio dessas comunidades não se enquadram em reações isoladas a rebeliões, mas a manifestação de um contrato racial que legitima o dualismo, superioridade e inferioridade. A mestiçagem atua duplamente, como mecanismo de domesticação simbólica que dilui demandas políticas em narrativas de integração cultural e como marcador que identifica práticas autônomas como perigosas, legitimando despossessão, militarização e criminalização. Neste sentido, a articulação entre a repressão estatal e a racialização do inimigo materializam a permanência de estruturas coloniais de poder que, reconfiguradas ao longo do tempo, matem-se como elemento constitutivo da genealogia brasileira.

 

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Publicado

2025-10-23

Como Citar

SILVA, Isadora de Oliveira Costa e; FREITAS, Joaquim Leonardo Lopes Louzada de. Palmares e Belo Monte: Um ensaio sobre a guerra permanente contra quilombolas e camponeses no Brasil. Virtuajus, Belo Horizonte, v. 10, n. 19, p. 183–202, 2025. DOI: 10.5752/P.1678-3425.2025v10n19p183-202. Disponível em: https://periodicos.pucminas.br/virtuajus/article/view/36816. Acesso em: 12 nov. 2025.

Edição

Seção

Dossiê Direitos Constitucionais e Soberania