A República Velha contra Canudos

do ideário do soldado-cidadão

Resumo

A Guerra de Canudos foi um notório conflito armado na história do Brasil entre os anos de 1896 e 1897 que envolveria não somente as tropas baianas, como toda a nação da república brasileira, que recém-formada consolidava-se enquanto federação. Percebido como uma ameaça à integridade territorial e do projeto civilizatório da república brasileira, o arraial foi terraplanado com ímpar violência pelo exército brasileiro. Tal força, alinhada ideologicamente com Benjamin Constant e comandada por uma elite militar positivista e eugenista, formaria uma ideologia sui generis de intervenção na sociedade e no governo brasileiro. Advogava por uma ética superior militar e pela limpeza de elementos retrógrados da sociedade, tal como a figura dos canudenses. Propõe-se este trabalho investigar a gênese, desenvolvimento e consolidação do ideário de soldado-cidadão, que irá legitimar o uso da violência contra a população sertaneja de Belo Monte e a criação de um ethos intervencionista que atravessaria toda a história da república. O trabalho é dividido em três partes: um primeiro momento para análise da Questão Militar da insatisfação militar e as condições do nutrimento do pensamento intervencionista, analisando a situação do pós Guerra do Paraguai e o estado do exército; um segundo momento com a análise da ascensão da força ao governo e a consolidação do pensamento do soldado-cidadão, sob a ótica de Renato Lessa, Edmundo Campos e José Murilo de Carvalho. Por fim, o estudo das bases eugenistas e positivistas com a adaptação do pensamento comteano por Constant e as questões racialistas de Nina Rodrigues.
Conclui o artigo que tal ideário propiciou a criação de uma subjetividade sobre um exército partícipe da política, lealdade à farda, e de superioridade militar sobre a esfera civil, identificando elementos autoritários à sua concepção.