A Lógica do Extermínio
a Guerra de Canudos e a necropolítica contra os povos indígenas na ditadura militar
DOI:
https://doi.org/10.5752/P.1678-3425.2025v10n19p234-247Palavras-chave:
Belo Monte, Indígenas, Ditadura militar, NecropolíticaResumo
Este artigo propõe uma análise crítica da persistência da violência estatal no Brasil contra grupos que desafiam a ordem hegemônica, tomando a obra Os Sertões, de Euclides da Cunha, como matriz interpretativa para compreender os mecanismos de legitimação da repressão. A partir da leitura crítica da obra de Euclides, discute-se como as ideias de “progresso” e “ordem” foram mobilizadas para justificar o extermínio de comunidades percebidas como ameaça, tanto no episódio da Guerra de Canudos quanto nas políticas indigenistas implementadas durante a Ditadura Militar. Nesses contextos, a diferença cultural e política foi transformada em sinal de atraso ou subversão, legitimando práticas de exclusão, deslocamento e aniquilação. O estudo evidencia, assim, a continuidade de lógicas coloniais que estruturam o Estado brasileiro, bem como a necessidade de uma perspectiva decolonial que reconheça a legitimidade de modos de vida distintos e valorize os direitos territoriais e culturais como fundamentos de justiça social e democracia plural.
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