Os anos iniciais do futebol feminino em Santa Catarina: silenciamentos e resistências
Resumo
O artigo produz uma síntese histórica sobre os espaços ocupados e os papéis desempenhados pelas mulheres no campo esportivo em Santa Catarina ao longo do século XX e o desenvolvimento do futebol de mulheres, cuja prática foi por quase quatro décadas (1941-1979) oficialmente proibida por decreto-lei, sendo que a sua regulamentação ocorreu apenas no ano de 1983. Tal interdição, baseada em premissas biológicas e legitimada pela estrutura patriarcal conservadora brasileira, marginalizou a modalidade e retardou o seu desenvolvimento, ao contrário da categoria masculina, que se tornou o esporte mais popular do país. Em sintonia com o que ocorria nos grandes centros urbanos, em Santa Catarina o futebol foi visto como um esporte masculino carregado por marcas civilizatórias, praticado por uma elite que reservou às mulheres o papel de torcedora. A sua prática pelas mulheres iniciou como atração circense, tentou desenvolver-se como atividade educativa, foi coibido, estabeleceu estratégias de resistência para continuar sendo praticado até poder estruturar-se em suas diversas manifestações profissionais, de lazer, de educação e sociabilidade.
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