Do “comício que não houve” à marcha da vitória: a deflagração do golpe civil-militar em Alagoas (The "rally that not there was" the victory march: the outbreak of the civil-military coup in Alagoas) - DOI: 10.5752/P.2237-8871.2014v15n22p30
Resumo
Pretendemos neste artigo fazer uma exposição da pesquisa realizada sobre a deflagração do golpe civil-militar de 1964 em Alagoas. A partir do uso das fichas pessoais da Delegacia de Ordem Pessoal, Social e Econômica – DOPSE, e da pesquisa feita no jornal A Voz do Povo, editado pelo PCB em Alagoas, e dos jornais da grande imprensa alagoana do período, buscamos fazer uma análise das greves e campanhas políticas e sociais realizadas em 1964, bem como da repressão sofrida pelos trabalhadores e pelos grupos de esquerda em geral, chamando atenção para as peculiaridades do caso alagoano. A atuação cada vez mais intensa dos grupos de esquerda em Alagoas, no início da década de 1960, foi alvo de uma forte repressão policial comandada pelo governador do Estado, o major Luiz Cavalcante. A partir dos eventos narrados nos jornais pesquisados, que culminaram no comício de 29 de março de 1964, procuramos mostrar a mobilização dos grupos de esquerda no referido período, bem como as medidas repressivas do governador para conter a atividade desses grupos.
Abstract
We intend in this article to make an exhibition of research conducted on the outbreak of the civil-military coup of 1964 in Alagoas. From the use of the personal files of the Police Order Personal, Social and Economic – DOPSE and survey in the newspaper A Voz do Povo, edited by Communist Party in Alagoas, and newspapers of the period Alagoas mainstream media, we seek to analyze the strikes and political and social campaigns conducted in 1964 and the repression suffered by workers and leftists in general in the period, drawing attention to the peculiarities of the case of State of Alagoas. The performance of increasingly intense leftist groups in Alagoas in the early 60s was the target of a strong police repression led by the state governor, Major Luiz Cavalcante. From the events recounted in the newspapers surveyed, which culminated in rally March 29, 1964 try to show the mobilization of groups left in the period as well as the repressive measures of the governor to contain the activity of these groups.
Keywords: Civil-military Coup; History of Alagoas; Workers; Strikes.Downloads
Referências
Fontes primárias
camponeses paralisam o trabalho nas fazendas e usinas pelo cumprimento das leis. Voz do Povo, Maceió, 09 fev. 1964. p. 1-4.
: ELO entre 1963 e 1965. Jornal de Alagoas, Maceió, 01 jan. 1964. p. 4.
FAZENDAS da Usina Leão e de uma da Usina Santa Clotilde em greve pelo 13º. Jornal de Alagoas, Maceió, 29 jan. 1964. p. 6.
MIL camponeses de Alagoas irão a greve pelo 13º mês de salário. A Voz do Povo, Maceió, 18 jun. 1964. p. 1.
A CORAJOSA posição do Governo de Alagoas. Jornal de Alagoas, Maceió,04 abr. 1964. p. 1.
ALAGOAS durante o domingo último viveu a beira de uma convulsão sem precedentes. Jornal de Alagoas, Maceió, 31 mar. 1964. p. 1.
AO POVO alagoano. Jornal de Alagoas, Maceió, 05 abr. 1964. p. 1.
A POLÍCIA preserva a ordem eliminando focos de agitação. Gazeta de Alagoas, Maceió, 03 abr. 1964. p. 4.
ARQUIVO PÚBLICO DE ALAGOAS. Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Têxtil de Fernão Velho – 1953-1964. Ata de reunião de 11 de março de 1964. Maceió, 1964.
AS CLASSES produtoras aplaudem e apoiam atitude do Secretário. Diário Oficial, Maceió, 17 jan. 1964. p. 1.
ASSOCIAÇÃO Comercial de Palmeira: aplausos e apoio ao governador. Diário Oficial, Maceió, 24 jan. 1964. p. 1.
CAMPONESES de Alagoas ameaçam com greve se não for pago o Décimo Terceiro salário até o dia 27. Jornal de Alagoas, Maceió, 18 jan. 1964. p. 6.
CAMPONESES VÃO receber décimo terceiro mês. Jornal de Alagoas, Maceió, 23 jan. 1964. p. 6.
CAMPONESES RECEBERÃO décimo terceiro de salário: usineiros concordam. Jornal de Alagoas, Maceió, 06 fev. 1964. p. 6.
COMEÇA a faltar gasolina. Jornal de Alagoas, Maceió, 09 jan. 1964. p. 6.
DECRETADA Greve Geral no estado como protesto. Jornal de Alagoas, Maceió, 31 mar. 1964. p. 1.
DIVULGAÇÃO do Movimento Popular pela Democracia. Jornal de Alagoas, Maceió, 26 mar. 1964. p. 1.
ESTADO às vésperas da paralisação total: falta gasolina por falta de pulso firme. Jornal de Alagoas, Maceió, 14 jan. 1964. p. 6.
GOLPE foi preparado com antecedência. Tribuna, Maceió, 28 mar. 2004. p. 16.
GOVERNADOR completa hoje terceiro ano de sua administração eficiente. Diário Oficial, Maceió, 31 jan. 1964.
GOVERNO DE ALAGOAS foi o primeiro a se solidarizar com o movimento de Minas. Jornal de Alagoas, Maceió, 04 abr. 1964. p. 6.
GOVERNO interveio e garantiu o abastecimento em todo o estado pelo preço real. Jornal de Alagoas, Maceió, 16 jan. 1964. p. 6.
GREVE CONTINUA: gasolina cada vez mais cara. Jornal de Alagoas, Maceió, 12 jan. 1964. p. 6.
GREVE dos trabalhadores em combustíveis pretende paralisar o estado: gasolina nem para coletivo. Jornal de Alagoas, Maceió, 10 jan. 1964.
HISTÓRIA de um comício que não houve. Jornal de Alagoas, Maceió, 03 abr. 1964. p. 2.
JÁ DESARTICULADOS os focos comunistas do estado, mas polícia prossegue em constantes diligências. Jornal de Alagoas, Maceió, 05 abr. 1964. p. 5.
MAIS esclarecimentos sobre a greve em quatro fazendas. Jornal de Alagoas, Maceió, 30 jan. 1964. p. 6.
MARCHA com Deus, pela liberdade em Maceió. Diário da Noite, Recife, 03 abr. 1964. p. 2.
MARCHA da família alagoana. Diário Oficial, Maceió, 04 abr. 1964. p. 1.
PROTESTOS de massas contra o espancamento do líder camponês José Pedro de Lima. Voz do Povo, Maceió, Ano XVII, n.26, 04 ago. 1963.p. 2.
REVOLUÇÃO de 64 enfrenta “crise dos 40”. Tribuna, Maceió, 28 mar. 2004. p. 10.
SINDICATO dos portuários é o último foco de agitação comunista no estado. Gazeta de Alagoas, Maceió, 04 abr. 1964.p. 4.
SINDIPETRO e SJPEA. Jornal de Alagoas, Maceió, 11 jan. 1964. p.5-6.
SURUAGY afirma que período foi ‘promissor’ para Alagoas. Tribuna, Maceió, 28 mar. 2004. p. 16.
TRABALHADORES resistiram bravamente. Tribuna, Maceió, 28 mar. 2004. p. 9.
VITORIOSA greve dos trabalhadores em combustíveis. A Voz do Povo, Maceió,18 jan. 1964. p. 1.
Fontes secundárias
ALVES SANTOS, James Washington. O Poder dos Militares nas “Mãos” de um Civil: Ditadura Militar e o 1º Governo Suruagy em Alagoas. Maceió: UFAL, 2009 (Mímeo).
ALVES, Márcio Moreira. Teotônio, Guerreiro da Paz. Petrópolis: Vozes, 1983.
CARVALHO, Cícero Péricles de. Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise. Maceió: EDUFAL, 1993.
COSTA, Rodrigo José da. O golpe civil-militar em Alagoas: o governo Luiz Cavalcante e as lutas sociais (1961-1964). 2013. 159 f. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Pernambuco, Programa de Pós-graduação em História, Recife.
DELGADO, Lucília de Almeida Neves. 1964: temporalidades e interpretações. In: REIS, Daniel Aarão; RIDENTI, Marcelo; MOTTA, Rodrigo Patto Sá. O golpe e a ditadura militar, 40 anos depois (1964-2004). Bauru: EDUSC, 2004.
DELGADO, Lucília de Almeida Neves. PTB: do getulismo ao reformismo (1945-1964). São Paulo: Marco Zero, 1989. 317p.
DELGADO, Lucília de Almeida Neves. Trabalhadores na crise do populismo: utopia e reformismo, In: TOLEDO, Caio Navarro. 1964: Visões críticas do golpe. Campinas: Editora da UNICAMP, 1997.
DREIFUSS, René Armand. 1964: a Conquista do Estado. Ação Política, Poder e Golpe de Classe. Petrópolis: Vozes, 2006.
FERREIRA, Jorge. O governo João Goulart e o golpe civil militar de 1964. In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (Org.). In: O Brasil Republicano. O tempo da experiência democrática – da democratização de 1945 ao golpe civil e militar de 1964. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.
FICO, Carlos. Além do golpe: versões e controvérsias sobre 1964 e a ditadura militar. Rio de Janeiro: Record, 2004.
FIGUEIREDO, Argelina Cheibub. Democracia ou Reformas? Alternativas democráticas à crise política (1961-1964). São Paulo: Paz e Terra, 1993.
GORENDER, Jacob. Combate nas Trevas. A esquerda brasileira: das ilusões perdidas à luta armada. São Paulo: Ática, 1990.
GRYNSZPAN, Mario; DEZENOME, Marcus. As esquerdas e a descoberta do campo brasileiro: Ligas Camponesas, comunistas e católicos (1950-1964). In: FERREIRA, Jorge; REIS, Daniel Aarão (Org.). Nacionalismo e reformismo radical (1945-1964) – as esquerdas no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.
LINS, Enio. Alagoas: Pastoril de Trágicas Jornadas. Edição eletrônica do Instituto de Pesquisas Sociais da Fundação Joaquim Nabuco, 2004. Disponível em:. Acesso em: 08 jun. 2006.
MAJELLA, Geraldo de. Rubens Colaço: paixão e vida – a trajetória de um líder sindical. Maceió/Recife: Edições Bagaço, 2010a.
MAJELLA, Geraldo de. (Org.). O PCB em Alagoas: documentos (1982-1990). Maceió: EDUFAL, 2010b.
MATTOS, Marcelo Badaró. O governo João Goulart: novos rumos da produção historiográfica. Revista Brasileira de História, v. 28, n. 55, pp. 245-263, São Paulo, jan./jun. 2008.
MEDEIROS, Fernando Antonio Mesquita. O homo inimicus: Igreja Católica, ação social e imaginário anticomunista em Alagoas. Maceió: Edufal, 2007.
MELLO, Paulo Décio de Arruda. Alagoas: Sindicatos Rurais e Dominação. 1990. 203 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Agrícola) – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Pós-Graduação em Desenvolvimento Agrícola, Itaguaí.
MIRANDA, Anivaldo de. Alagoas e o Golpe de 1964. Maceió: Edições do Partido Popular Socialista/PPS, 2004.
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Em guarda contra o perigo vermelho: o anticomunismo no Brasil (1917-1964). São Paulo: Perspectiva, 2002.
REIS, Daniel Aarão. Ditadura Militar, esquerdas e sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
SALDANHA, José Alberto. A Mitologia Estudantil. Maceió: SERGASA, 1994.
SALDANHA, José Alberto. A Indústria Têxtil, a classe operária e o PCB. Maceió: Edufal, 2011.
STARLING, Heloisa. Os senhores das gerais – os novos inconfidentes e o golpe de 1964. Petrópolis: Vozes, 1986.
SAES, Décio. Classe média e política no Brasil (1930-1964). In: FAUSTO, Boris (Org.). História Geral da Civilização Brasileira. O Brasil Republicano – Sociedade Política (1930-1964). vol. III. São Paulo: Difel, 1983.
TENÓRIO, Douglas Apratto. A tragédia do populismo (o impeachment de Muniz Falcão). Maceió: EDUFAL, 2007.
TOLEDO, Caio Navarro de. 1964, o golpe contra as reformas e a democracia. Revista Brasileira de História, v. 24, n. 47, p.13-28, São Paulo, jan./jun. 2004a.
TOLEDO, Caio Navarro de. 1964: golpismo e democracia. As falácias do revisionismo. Crítica Marxista, n. 19, p. 27-48, Rio de Janeiro, 2004b.
TOLEDO, Caio Navarro. A democracia populista golpeada. 1964: visões críticas do golpe. Campinas: Editora da UNICAMP, 1997.
TOLEDO, Caio Navarro de. O Governo Goulart e o Golpe de 64. São Paulo: Brasiliense, 2006.
O envio de qualquer colaboração implica, automaticamente, a cessão integral dos direitos autorais à PUC Minas. Solicita-se aos autores assegurarem:
A inexistência de conflito de interesses (relações entre autores, empresas/instituições ou indivíduos com interesse no tema abordado pelo artigo), órgãos ou instituições financiadoras da pesquisa que deu origem ao artigo.
Todos os trabalhos submetidos estarão automaticamente inscritos sob uma licença creative commons do tipo "by-nc-nd/4.0".