DOENÇA, SOCIEDADE E ARTIFÍCIO EM ROUSSEAU

ALGUMAS PONDERAÇÕES

Autores

  • Edmilson Menezes UFS

DOI:

https://doi.org/10.5752/P.2177-6342.2025v2n2p168-183

Palavras-chave:

Rousseau, sociedade, doença, artificialidade, aparência

Resumo

O homem histórico afastou-se da sua verdadeira natureza, e esse distanciamento é decisivo para a formação de um novo estado, no qual, ao recorrer à artificialidade, ele passa a uma convivência civil organizada e protegida, mas, sincronicamente, encontra o fracasso e a dor. O que se perde nesse movimento é, entre outros elementos, a preservação de certo vigor associado à simplicidade característica da ausência de artefatos sociais impostos à convivência comum. A partir desse prisma, Rousseau propõe uma vigorosa reflexão sobre a persistente patologia que acomete a sociedade: a constatação de que os homens estão doentes após se defrontarem com o ambiente das relações civis. A doença como expressão social manifesta as fragilidades inerentes ao elo artificial entre o indivíduo e a comunidade, resultando na exteriorização da consciência, na dependência da imagem e na perda do vínculo direto consigo. Isso acaba sendo substituído por uma relação mediada pelas convenções coletivas. Nessa direção, o objetivo deste artigo é apresentar o nexo entre sociedade e patologia em Rousseau, de modo a ressaltar a ideia segundo a qual o homem civil é, em grande medida, o resultado do artifício.

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Biografia do Autor

Edmilson Menezes, UFS

Doutor em Filosofia pela UNICAMP. Professor titular do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Sergipe. Bolsista de Produtividade do CNPq. E-mail: ed.menezes@uol.com.br

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Publicado

2025-04-22

Como Citar

Menezes, E. (2025). DOENÇA, SOCIEDADE E ARTIFÍCIO EM ROUSSEAU: ALGUMAS PONDERAÇÕES. Sapere Aude, 2(2), 168–183. https://doi.org/10.5752/P.2177-6342.2025v2n2p168-183

Edição

Seção

ARTIGOS/ARTICLES: DOSSIÊ/DOSSIER