A bestialidade soberana e a necessidade de vida nua
Resumo
A partir de duas dimensões complexas acerca da política contemporânea, o trabalho que aqui se propõe objetiva — através da apropriação de autores como Jacques Derrida e Giorgio Agamben — arranhar, mas com rigor, questões ético-políticas que envolvem a dimensão do poder, da soberania e da bestialidade. À vista disso, e no uso dos artigos masculino e feminino, buscar-se-á pensar o conceito de “soberania” e “bestialidade” como figuras ontoteológicas construídas ao longo do pensamento ocidental. Em outras palvras, haveria uma dupla interpretaçaõ e penetração entre o soberano e a besta, e nesta ambivalência o que a história parece nos oferecer é uma grande historia da bestialidade que alimenta o conceito de soberania no pensamento ocidental. Ora, em uma alusão clara ao SÉMINAIRE LA BÊTE ET LE SOUVERAIN, de Jacques Derrida, a análise aqui forjada busca, no devir besta e no devir soberano da besta, entender a figura do lobo-soberano como aquele que se encontra fora da lei e, ao mesmo tempo, é a lei mesma; ou seja, o que detém um poder legítimo de criá-la e suspendê-la soberanamente. Donde um diálogo com Agamben aparecer de modo importante e um pouco elucidador. Nesta análise busca-se compreender o como e o porquê da necessidade de abandono de determinados grupos, na sacralidade insacrificável de suas existências, no “a mercê de ...”. Em outras palavras, a pergunta que se segue se dá naquilo que, contemporaneamente, a filosofia política e jurídica não pode escapar: a pergunta acerca do significado da vida nua.
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