Paisagens terrenas: Nietzsche e Clarice Lispector
DOI:
https://doi.org/10.5752/P2358-3231.2016n28p281Palavras-chave:
Clarice Lispector. Nietzsche. Pensamento trágico.Resumo
Em um dos capítulos de Assim falou Zaratustra, Nietzsche enuncia, por meio de sua personagem Zaratustra, o amor a uma paisagem terrena, que seria, no início e ao cabo, a privilegiada visão possível ao homem e a singular paisagem querida. Ele diz: “Mas nós não queremos entrar no reino dos céus: tornamo-nos homens – assim, queremos o reino da terra”. Tal afirmativa coloca em questão a “fidelidade à terra” tão proclamada por Nietzsche em vários momentos de Zaratustra e em outros livros, como A
gaia ciência e Crepúsculo dos ídolos. De modo similar a esse pensamento trágico, que elege fios condutores como o corpo, o amor ao terreno e a alegria trágica diante da existência, a escritura de Clarice Lispector parece também encenar um gesto afirmativo que diz ‘sim’ ao terreno. Em A paixão segundo G.H., a escritora, por meio de sua personagem, conduz o leitor por uma paisagem terrena na qual encontramos uma “redenção” no aqui e no agora, uma redenção que parodicamente se efetua pela eliminação de qualquer além-mundo. Em Clarice, assim como em Nietzsche, há uma defesa do corpo, do amor fati e da fidelidade à terra. O diálogo entre o filósofo alemão e a escritora brasileira permite entrever afinidades agudas entre esses dois autores que, sobretudo, acreditaram numa experiência terrena que se abre para a alegria e revela, nesse sentido, uma potente força revolucionária acolhida por aqueles que elegem a paisagem terrena como uma imagem do sagrado.
Palavras-chave: Clarice Lispector. Nietzsche. Pensamento trágico.
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