Os dilemas bioéticos e a nova eugenia na contemporaneidade
DOI:
https://doi.org/10.5752/P.2237-8871.2022v23n39p104-120Palavras-chave:
Eugenia liberal, Educação, Discurto médico-eugênicoResumo
O objetivo aqui é examinar a configuração do discurso médico-eugênico em contraste entre passado e presente. Para tanto, fundamentada teórica-metodologicamente nos estudos foucaultianos, realizou-se uma revisão histórica-documental que articula resultados de uma pesquisa de mestrado já finalizada e conclusões parciais de um projeto de doutorado em desenvolvimento. Diante disso, destaca-se que a teoria criada por Francis Galton, em 1875, desde seu início ensejou adquirir cientificidade no meio social. No ideário novecentista, observam-se aproximações ambíguas entre a eugenia e a educação. Segundo supunha Renato Kehl, por intermédio da eugenização da “raça” é que o país ascenderia economicamente; conquanto, Edgar Roquette-Pinto o contrapunha justificando que a eugenização se daria através da melhoria de hábitos via educação. Na atualidade, observam-se que as práticas presentes na eugenia novecentista ainda permeiam de outros modos a nova eugenia – liberal. Denota-se, ainda, que a busca pelo aprimoramento biogenético da prole por famílias abastadas e os princípios bioéticos implicados nesses processos ainda persistem em determinadas camadas socias e tendem a ressignificar as relações estruturais na vida em sociedade.
Downloads
Referências
ANDERSON, Gary. A reforma escolar como performance e espetáculo político. Educação e Realidade, Porto Alegre, v. 35, n. 2, p. 57-76, mai./ago. 2010.
ANTUNES, Mitsuko Aparecida Makino. Psicologia Escolar e Educacional: história, compromissos e perspectivas. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE). Volume 12 Número 2 Julho/Dezembro de 2008, p. 469-475, 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pee/v12n2/v12n2a20.pdf. Acesso em 02 out. 2019.
BONFIM, Paulo Ricardo. A educação no movimento eugênico brasileiro (1917-1933). 2013. 167 f. Dissertação (mestrado) – Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação da Universidade São Francisco. Itatiba, 2013. Disponível em: http://www.usf.edu.br/galeria/getImage/385/1797223016470645.pdf. Acesso em: 22 mai. 2019.
CARVALHO, Leonardo Dallacqua de; SOUZA, Vanderlei Sebastião de. Continuidades e rupturas na história da eugenia: uma análise a partir das publicações de Renato Kehl no Pós-Segunda Guerra Mundial. PERSPECTIVA, Florianópolis, v. 35, n. 3, p. 887-910, jul./set. 2017. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/perspectiva/article/viewFile/2175-795X.2017v35n3p887/pdf. Acesso em: 12 mai. 2019.
Eugenia: brasileiros que importam sêmen de brancos dos EUA viram notícia internacional. Socialista Morena. Caderno digital: Direitos Humanos. 2018. Disponível em: http://www.socialistamorena.com.br/eugenia-brasileiros-que-importam-semen-dos-eua-viram-noticia-internacional/. Acesso em: 22 mar. 2019.
DOMINGUES, Octávio. A hereditariedade em face da educação. Bibliotheca de Educação. Vol. VI. São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1929.
DUNKER, Christian I. L. Psicologia das massas digitais e análise do sujeito democrático. In: Democracia em risco?: 22 ensaios sobre o Brasil hoje. São Paulo: Companhia das Letras, 2019, p. 116-135.
FONSECA, Alvares. Fróes. Os grandes problemas da Anthropologia. In: Actas e trabalhos. Rio de Janeiro: s. n°, 1929. v.1. 342, p. 613.94 C76. reg. 8328/06 ex.3. Rio de Janeiro, 1929, p. 78. Disponível em: http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=acebibcoc_r&pagfis=9788. Acesso em: 18 dez. 2018.
FOUCAULT, Michel. Segurança, Território, População. Curso dado no Collège de France (1977-1978). São Paulo: Martins Fontes, 2008a.
GATTACA: A Experiência Genética. Roteiro e direção de Andrew Niccol, interpretado por Ethan Halke. Filme de 1997.
GOUVÊA FILHO. E. ROQUETTE-PINTO — ANTROPÓLOGO E EDUCADOR (*).. Diretor do Instituto Nacional de Cinema Educativo. In: REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS. Publicada pelo Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos. Ministério da Educação e Cultura. Diretor Anísio Spinola Teixeira Vol. XXIV julho-setembro, ed. n° 59., p. 31-57. 1955. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me001662.pdf. Acesso em: 14 mar. 2018.
GUROVITZ, Helio; MOLICA, Fernando. Biólogo da USP defende eugenia "democrática". São Paulo, sábado, 23 de julho de 1994. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1994/7/23/brasil/50.html. Acesso em: 23 out. 2019.
HERRNSTEIN, Richard J; MURRAY, Charles. The Bell Curve: Intelligence and Class Structure in American Life. Nova York: Free Press, 1994. 873 p.
KEHL, Renato Ferraz. Brazil médico. Rio de Janeiro, 1921. Sem paginações.
KEHL, Renato Ferraz. Eugenia e eugenismo. Boletim de Eugenia. Rio de Janeiro, Revista Medicamenta. Anno I. Ed. N° 8. Agosto/1929ª. p. 1-16.
KEHL, Renato Ferraz. Lições de eugenia. Rio de Janeiro. Livraria Francisco Alves, 1929b.
KEHL, Renato Ferraz. A surdês familiar e o casamento de surdos. Boletins de Eugenia. Rio de Janeiro, Revista Medicamenta. Anno III. Ed. N° 31. Julho/1931. p. 1-4.
LOPES, Maura Corcini. ¿Qué hay entre las políticas de inclusión y las prácticas pedagógicas en la escuela? Sudamérica: Revista de ciências Sociales. N° 9, p. 73-94, 2018. Disponível em: https://fh.mdp.edu.ar/revistas/index.php/sudamerica/article/view/2986. Acesso em 22 ago. 2019.
MOURA, Olegário. Saneamento - Eugenía - Civilização. In: ANNAES DE EUGENÍA. Contributor, Sociedade Eugenica de São Paulo. Publisher, Edição da Revista do Brasil, 1919. p. 83.
MOURA, Simone Moreira de. SILVA, Morena Dolores Patriota da. Pressupostos da eugenia e seus impactos na concepção de deficiência. Comunicações, Piracicaba, ano 19, n 1, p. 101-113, jan.-jun., 2012.
PEARSON, Samantha. Demand for American Sperm Is Skyrocketing in Brazil. Explosive growth spurred by more wealthy single women and lesbian couples turning to U.S. donos. The Wall Street Journal – Latin Ameria. Updated March 22, 2018 11:14 a.m. ET. Disponível em: https://www.wsj.com/articles/in-mixed-race-brazil-sperm-imports-from-u-s-whites-are-booming-1521711000. Acesso em: 23 mar. 2018.
PENNA, Belisário. Eugenia e eugenismo. Boletins de Eugenia. Rio de Janeiro, Revista Medicamenta. Anno I. Ed. n° 10. Outubro/1929. p. 1-4.
PENNA, Belisário. Por que se impõe a primazia da educação higiênica escolar. In: COSTA, Maria José Ferreira franco; SHENA, Denílson Roberto; SCHMIDT, Maria Auxiliadora. I Conferência nacional de educação (1927). Brasília: MEC: IPARDES, 1997. p. 29-33.
PIZOLATI, Audrei Rodrigo da Conceição. DISCURSO EUGÊNICO NA I CONFERÊNCIA NACIONAL DE EDUCAÇÃO (1927, CURITIBA/PR – BRASIL). 2018. 199 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, 2018. Disponível em: http://www.repositorio.jesuita.org.br/bitstream/handle/UNISINOS/7038/Audrei%20Rodrigo%20Pizolati_.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 23 ago. 2019.
PIZOLATI, Audrei Rodrigo da Conceição; ALVES, Alexandre. Os debates sobre educação moral, conduta e caráter do indivíduo nas primeiras décadas do século XX e seus reflexos na atualidade. Rev. bras. Estud. pedagog., Brasília, v. 100, n. 256, p. 651-674, set./dez. 2019. Disponível em: http://rbepold.inep.gov.br/index.php/rbep/article/view/4161. Acesso em 20 dez. 2019.
PONTIN, Fabrício. Biopolítica, eugenia e ética: uma análise dos limites da intervenção genética em Jonas, Habermas, Foucault e Agamben. 2007. 104 f. Dissertação (Mestrado em Filosofia) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007. Disponível em: http://repositorio.pucrs.br/dspace/handle/10923/3412. Acesso em: 08 jun. 2019
PROCTOR, Robert. Racial Hygiene: Medicine under the Nazis. Cambridge, Mass/Londres: Harvard University press, 1988.
PROVINE, William B. Geneticists and Race. American Zoologist. Vol. 26, n° 3, p. 857-887, 1986.
ROQUETTE-PINTO, Edgar. Notas sobre os typos anthropologicos do Brasil. In: I CONGRESSO BRASILEIRO DE EUGENIA. In: Actas e trabalhos. Rio de Janeiro: s. n°, 1929. v.1. 342, p. 613.94 C76. reg. 8328/06 ex.3. Rio de Janeiro, 1929, p. 119-147. Disponível em: http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=acebibcoc_r&pagfis=9788. Acesso em: 18 dez. 2018.
ROQUETTE-PINTO, Edgard. Ensaios de antropologia brasiliana. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1933 (“Biblioteca Pedagógica Brasileira”, série V, Coleção “Brasiliana”, vol. XXII).
ROQUETTE-PINTO, Edgard. Os fundamentos biológicos da sociologia. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro: 25 mar., 1936.
ROQUETTE-PINTO, Edgard. Prometheus: or, biology and the advancement of man – Rio de Janeiro. In: Boletim de Ariel, n.1, p.31-33. out., 1931.
ROSE, Nikolas. A política da própria vida: biomedicina, poder e subjetividade no Século XXI. São Paulo, Paulus, 2013.
SANDEL, Michael J. Contra a perfeição: Ética na era da engenharia genética. 1° Ed. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, RJ. 2013.
SCHRAMM, Fermin Roland. Eugenia, Eugenética e o Espectro do Eugenismo: Considerações Atuais sobre Biotecnociência e Bioética. Bioética, vol.5, nº 2, 1997. p. 203-220. Disponível em: http://revistabioetica.cfm.org.br/index.php/revista_bioetica/article/view/384. Acesso em 22 out. 2019.
SCHWARCZ, Lilia M. Sobre o autoritarismo brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. 286 p.
SILVA, Mozart Linhares da. Biopolítica, educação e eugenia no Brasil (1911-1945). Revista Ibero-Americana de estudos em educação. Unesp. Universidade de Acalá. 2014. Disponível em: http://seer.fclar.unesp.br/iberoamericana/article/view/5070. Acesso em: 23 set. 2019.
SILVA, Roberto Rafael Dias da. Estetização Pedagógica, Aprendizagens Ativas e Práticas Curriculares no Brasil. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 43, n2, p. 551-568, abr/jun 2018. http//dx.doi.org/10.1590/2175-623667743. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S2175-62362018000200551&script=sci_abstract&tlng=pt. Aceso em: 10 set. 2018.
SP. Ministério Público do Estado de São Paulo. Pedido de Liminar (arts. 127 c.c. 129, III, ambos da CF). 195 f. 2017 Protocolado em 31/05/2017, sob o número 10015215720178260360, processo 1001521-57.2017.8.26.03602017. 2017. Disponível em: https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/conferirDocumento.do?conversationId=&instanciaDaConsulta=SG5TJ&tipoNuProcesso=UNIFICADO&numeroDigitoAnoUnificado=1001521-57.2017&foroNumeroUnificado=0360&nuProcessoUnificado=1001521-57.2017.8.26.0360&nuProcesso=&cdProtocolo=10015215720178260360&cdServicoConferencia=920102. Acesso em: 14 out. 2019.
STEPAN, Nancy Leys. A hora da Eugenia: raça, gênero e nação na América Latina. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2005.
STEPAN, Nancy Leys. The hour of eugenics: race, gender, and nation in Latin America. Ithaca: Cornell University Press, 1991.
VEIGA-NETO, José Alfredo. Foucault & a Educação. 3ª Ed; 1 reimp. – Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2014.
WEGNER, Robert; SOUZA, Vanderlei Sebastião de. Dois geneticistas e a miscigenação Octávio Domingues e Salvador de Toledo Piza no movimento eugenista brasileiro (1929-1933). Recebido: 6 set. 2016 | Revisto pelo autor: 10 nov. 2016 | Aceito: 24 nov. 2016. Varia História, Belo Horizonte, vol. 33, n° 61, p. 79-107, jan/abr, 2017. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/0104-87752017000100005. Acesso em: 15 fev. 2017.
WEGNER, Robert; SOUZA, Vanderlei Sebastião de. Eugenia ‘negativa’, psiquiatria e catolicismo: embates em torno da esterilização eugênica no Brasil. História, Ciências, Saúde –Manguinhos, Rio de Janeiro, vol. 20, n° 1, jan.-mar, p. 263-288, 2013. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/hcsm/2013nahead/ahop0113.pdf. Acesso em: 21 out. 2016.
WEIL, Pierre. Normose: a patologia da normalidade. I Pierre Weil, Jean- YvesLeloup, Tradução: Roberto Crema. - Campinas, SP: Vetus Editora, 2003. Disponível em: https://anovamente.files.wordpress.com/2016/09/0-weil-leloup-e-crema-normose.pdf. Acesso em: 23 jan. 2018.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
O envio de qualquer colaboração implica, automaticamente, a cessão integral dos direitos autorais à PUC Minas. Solicita-se aos autores assegurarem:
A inexistência de conflito de interesses (relações entre autores, empresas/instituições ou indivíduos com interesse no tema abordado pelo artigo), órgãos ou instituições financiadoras da pesquisa que deu origem ao artigo.
Todos os trabalhos submetidos estarão automaticamente inscritos sob uma licença creative commons do tipo "by-nc-nd/4.0".