O Teatro de memória encenado em museus históricos

Autores

  • Lucinei Pereira da Silva Universidade Federal de Minas Gerais
  • Kelly Amaral de Freitas Universidade Federal de Minas Gerais
  • Luiz Henrique Assis Garcia Universidade Federal de Minas Gerais

DOI:

https://doi.org/10.5752/P.2237-8871.2022v23n38p153-172

Palavras-chave:

Teatro da memória; museus históricos; exposição.

Resumo

A despeito de críticas consistentes que vêm sendo feitas há décadas, perpetua-se nas exposições de museus históricos dos mais diversos tamanhos, localizações e trajetórias institucionais um modo de “encenar” a História que remete ao modo de ver proposto desde a Antiguidade clássica nos “teatros da memória”. O apelo às funções de evocação e celebração nestes museus, empregando tal forma de articular imagens e espaços de maneira a organizar a rememoração de uma ordem do mundo evidencia a “teatralização do poder”, através da qual grupos hegemônicos mobilizam o patrimônio cultural como força política. Pretendemos aqui, tomando como objetos de análise circuitos expositivos do Museu Histórico Nacional (MHN) no Rio de Janeiro e do Museu da Cidade de Governador Valadares/MG (MCGV), flagrar tal perspectiva “no ato”, tratando tal situação em si como um "problema histórico” a ser investigado. Este contraste permite-nos salientar como essa teatralização se perpetua, bem como reforçar uma postura crítica e metodologicamente consistente no aproveitamento das abordagens historiográficas correntes e das conquistas teóricas da museologia social, de maneira a tornar os museus históricos mais efetivos diante das tarefas que seu tempo lhes impõe.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Lucinei Pereira da Silva, Universidade Federal de Minas Gerais

Doutorando em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) na linha de pesquisa: Memória social, patrimônio e produção do conhecimento. Mestre em Educação pela Universidade do Estado de Minas Gerais (2018). Graduação em História pela Universidade Vale do Rio Doce (2011). Especialização em Ensino de História pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2016). Atualmente é professor de História na Rede Estadual de Minas Gerais. Atua nos seguintes temas: história local, currículo de história, patrimônio cultural e práticas educativas em museus.

Kelly Amaral de Freitas, Universidade Federal de Minas Gerais

Licenciada em Pedagogia com formação complementar, em Museologia pela UFMG. Foi discente com bolsa CAPES, do Programa de Pós-graduação Mestrado em Educação da Universidade do Estado de Minas Gerais, vinculada a linha de pesquisa Culturas, memórias e linguagens em processos educativos. Atualmente é doutoranda com bolsa CAPES do PPGE da Escola Ciência da Informação na linha de pesquisa: Patrimônio, Memória social e produção de conhecimento.

Luiz Henrique Assis Garcia, Universidade Federal de Minas Gerais

Graduado (1997), Mestre (2000) e Doutor (2007) em História pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FAFICH) da UFMG, com trabalhos versando sobre o Clube da Esquina e a música popular brasileira dos anos 1960-70. Coordenou por 8 anos o Setor de Pesquisa do Museu Histórico Abílio Barreto (MHAB) em Belo Horizonte (MG). Atualmente é professor associado da Escola de Ciência da Informação (ECI) da UFMG, atuando no curso de Museologia e no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação. É um dos coordenadores do grupo de pesquisa ESTOPIM (Núcleo de Estudos Interdisciplinares do Patrimônio Cultural) e criador do Grupo de Estudos em Som e Museologia (SOMMUS), sediados na UFMG. É membro da seção latinoamericana da IASPM - International Association for the Study of Popular Music. Suas pesquisas versam sobre as relações dos museus com o espaço urbano e o público, a história e as políticas de patrimônio cultural devotadas à música popular e às paisagens sonoras e os significações sociais estabelecidos em torno das canções e os lugares da cidade a elas associados.Também atua como compositor, mais intensamente como letrista, tendo parcerias gravadas com Pablo Castro, Makely Ka, Kristoff Silva, Raul Mariano e Maurício Ribeiro, e muitas outras aguardando registro. 

Referências

ABREU, R. O papel dos museus na construção de uma identidade nacional. Anais do Museu Histórico Nacional: História, museologia e patrimônio. 28. 1996. pp. 37 - 65.

ALBERTI, Verena. Pedaços de narrativa nacional na exposição permanente do Museu Histórico Nacional. XXVII Simpósio Nacional de História. 2013. (Simpósio).

ARAÚJO, V.G. C. O século XXI coletado: Um estudo sobre a política de aquisição de acervo do Museu Histórico Nacional, seu uso, seus critérios e sua aplicação. [Dissertação]. Programa de Pós-graduação em Museologia e Patrimônio – PPG-PMUS Mestrado em Museologia e Patrimônio. 2014. pp. 259.

BARBUY, Heloisa. O Brasil vai a Paris em 1889: um lugar na Exposição Universal. An. mus. paul. [online]. 1996, vol.4, n.1, pp.211-261.

BITTENCOURT, J.N. Grandes doações, meio século depois. Anais do Museu Histórico Nacional: História, museologia e patrimônio. 38. 2006. pp. 10 -20.

BOURDIEU, P. O poder simbólico. Trad. Fernando Tomaz. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001, p.07-16. BRASIL.
CANCLINI, Néstor García. O Porvir do passado. In. Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. São Paulo: Edusp, 1997. p.159-204.
CAVALCANTI, Eri. A história "encastelada" e o ensino "encurralado": escritos sobre História, ensino e formação docente. Curitiba: CRV, 2021.

CERQUEIRA, E. M. O passado que não deve passar: história e autobiografia em Gustavo Barroso. 2011. 125 f. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Federal de Ouro Preto, Mariana, 2011.
CHAGAS, M. C. Tradição e ruptura no Museu Histórico Nacional. Anais do Museu Histórico Nacional: História, museologia e patrimônio, 1995. pp. 31 - 59.

CHAGAS, Mário de Souza. A Imaginação Museal: Museu, memória e poder em Gustavo Barroso, Gilberto Freyre e Darcy Ribeiro. 2003. Tese (Doutorado) - Curso de Doutorado em Ciências Sociais, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003.

CHAGAS, M. S. Memória e poder: dois movimentos. Estudos Avançados de Museologia. Lisboa: Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, v.1, p. 3-146. 2011.

CHAGAS, Mario de Souza. Há uma gota de sangue em cada museu: a ótica museológica de Mário de Andrade. Chapecó, SC: Argos, 2 ed, 2015.

FERREIRA, M. S. A aquisição de objetos como escrita de memória em museus: uma análise do relatório final da comissão interna de política de aquisição do Museu Histórico Nacional. Anais do Museu Histórico Nacional: História, museologia e patrimônio. 46. 2014. Pp. 11 – 31.

FILHO, Antônio Luiz Macêdo e Silva. A cidade e o museu: encontros possíveis. In: GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado; RAMOS, Francisco Régis Lopes (orgs.). Futuro de Pretérito: escrita da História e História do Museu. Fortaleza: Expressão Gráfica Editora, 2010.

GONÇALVES, José Reginaldo Santos. Os museus e a cidade. In: Abreu, Regina e Chagas, Mário (orgs.). Memória e Patrimônio: ensaios contemporâneos. Rio de Janeiro: DP&A, 2009.

GONÇALVES, José Reginaldo Santos. O mal-estar no patrimônio: identidade, tempo e destruição. Estudos Históricos Rio de Janeiro, vol. 28, no 55, p. 211-228, janeiro-junho 2015.
HOOPER-GREENHILL, Eilean. The repository of the royal society. Museums and the shaping of knowledge. London; New York: Routledge, 1992. ix, 232 p.
JULIÃO, Letícia. Apontamentos sobre a história do museu. Caderno de Diretrizes Museológicas,1. pp. 95-107, 2006.
KOWARICK, Lúcio, 1938. Trabalho e Vadiagem: A origem do trabalho livre no Brasil. Rio de Janeiro - 2. ed: Paz e Terra, 1994.

LEME, Edson José Holtz. O Teatro da Memória: o Museu Histórico de Londrina: 1959-2000. Tese (Doutorado em História) Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras, Programa de Pós-Graduação em História, 2013.

MARTINS, Ângela. A Exposição Internacional de 1922 no Rio de Janeiro: um espaço urbano turístico na jovem república brasileira. In: RIO, Vicente del (org.) Arquitetura: pesquisa & projeto. Rio de Janeiro: FAU UFRJ, 1998 (Coleção PROARQ), pp. 121-146.


MENESES, Ulpiano T. Bezerra. A problemática da identidade cultural nos museus: de objetivo (de ação) a objeto (de conhecimento). In Anais do Museu Paulista. Nova série, nº 1, 1993, pp.207-222.

MENESES, Ulpiano T. Bezerra de. Do teatro da memória ao laboratório da História: a exposição museológica e o conhecimento histórico. Anais do Museu Paulista. Nova Série, São Paulo, v.2, p. 9-42, jan./dez. 1994.

MENESES, Ulpiano T. Bezerra. A problemática da identidade cultural nos museus: de objetivo (de ação) a objeto (de conhecimento) In Anais do Museu Paulista. Nova série, n. 1, 1993, p.207-222.

MENESES, Ulpiano T. Bezerra de. O museu de cidade e a consciência de cidade. In: SANTOS, Afonso Carlos Marques dos; KESSEL, Carlos Guimarães: GUIMARAENS, Cêça (org.). Museus & Cidades. Livro do Seminário Internacional "Museus e Cidades". Rio de
Janeiro: Museu Histórico Nacional, 2003, p. 255-282.

MHN. Museu Histórico Nacional. http://mhn.museus.gov.br/. Acesso 19/03/2021.

MORAES, Nilson Alves de. Museu, informação e poder no Brasil: mudanças e conhecimento. In: ENANCIB – Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação, 2013. Anais... Florianópolis: UFSC, 2013. Disponível em: http://enancib.sites.ufsc.br/index.php/enancib2013/XIVenancib.

PM. Plano museológico MHN. 2020. In: https://mhn.museus.gov.br/wp-content/uploads/2021/01/Plano-Museolo%CC%81gico-MHN-2020-2023.pdf Acesso 19/05/2021.

RIBEIRO, A. C. L. As políticas e aquisição do MHN (1922 x 1996): do protagonismo das elites ao discurso dialético da diversidade da representação. In: Anais do Museu Histórico Nacional. 2007. pp. 433-454.

RICOEUR, Paul. A memória, a história e o esquecimento. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2007.

RUFFER, Mario. La exhibición del otro: tradición, memoria y colonialidad em museos de México. Antíteses, v. 7, n. 14, p. 94-120, jul. - dez. 2014.

RÜSEN, J. E JAEGER, F. A cultura da memoração na história da República Federal da Alemanha. In: Cultura faz sentido. Vozes. 2014. pp. 89-146.

SANTOS, Myrian Sepulveda dos. A escrita do passado em museus históricos. Rio de Janeiro: Garamond Universitária, 2006.

SANTOS, M. Os museus Brasileiros e a constituição do imaginário nacional. Sociedade e Estado. 15(2). 2000. pp. 271-301.

VIANA, OLIVEIRA. O caso do Império. PDF in: https://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/1091. 2004. 174 p.

Downloads

Publicado

2022-12-08

Como Citar

SILVA, Lucinei Pereira da; FREITAS, Kelly Amaral de; GARCIA, Luiz Henrique Assis. O Teatro de memória encenado em museus históricos. Cadernos de História, Belo Horizonte, v. 23, n. 38, p. 153–172, 2022. DOI: 10.5752/P.2237-8871.2022v23n38p153-172. Disponível em: https://periodicos.pucminas.br/cadernoshistoria/article/view/27864. Acesso em: 17 jul. 2025.

Edição

Seção

Dossiê - Artigos: Patrimônio Cultural