Chamada de Dossiê - Pesquisa de campo na Ciência Política e nas Relações Internacionais

2024-10-02

Chamada de Dossiê - Pesquisa de Campo na Ciência Política e nas Relações Internacionais

Organizadores

Thaís Vieira

Mariana Prandini Assis

Rodrigo Teixeira

Prazo de submissão: 30 de março de 2025

Previsão de publicação: segundo semestre de 2025

 

No Brasil, o campo de estudo das Relações Internacionais é marcado pelo silêncio no que diz respeito à prática da realização de pesquisas de campo como uma metodologia de investigação capaz de abranger diversas técnicas de coleta de dados, e a partir da qual a interação entre pesquisador/a, desenho de pesquisa e sujeito/s participante/s da pesquisa organiza-se de maneira ativa. Há uma ampla produção de pesquisas qualitativas, e, em menor número, quantitativas, que são construídas a partir de dados secundários. Há, da mesma maneira no Brasil, uma relutância da disciplina em reconhecer que as relações internacionais não são feitas apenas entre e por Estados nacionais, ou mesmo organizações internacionais, mas igualmente por indivíduos, coletivos, etnias, entidades econômicas, grupos minorizados, entre diversos outros atores não-estatais, que continuam a figurar no campo da marginalidade dessa área do saber. Neste sentido, esse silêncio contribui para a perpetuação das teorias realistas e liberais como principal fonte de conhecimento nas RI’s, ao passo que promove a discriminação de epistemologias fundadas em outros pontos de partida do conhecimento (Ackerly e True, 2008).

A Ciência Política, por sua vez, ancorada em perspectivas quantitativas de pesquisa, distanciou-se de seus sujeitos de pesquisa para construir investigações "neutras" e que demonstrassem em números as escassezes, insuficiências e deficiências políticas no Brasil, transformando indivíduos em números estatísticos. Tanto pesquisadores das RI's, quanto da CP, conduziram-se em direção à "neutralidade do pesquisador/a", fomentando a ideia do distanciamento e reproduzindo diferenças de poder entre pesquisador/a e sujeito participante da pesquisa, tão criticadas pelas feministas de RI que defendem pesquisas empenhadas em evidenciar o silêncio, a diferença, a opressão, as hierarquias e o poder das epistemologias excludentes (Ackerly e True, 2008).

Tendo essas questões em mente, e trabalhando para a construção de uma disciplina de Ciência Política e de Relações Internacionais que revejam suas perspectivas epistemológicas para melhor incluir os sujeitos até aqui marginalizados por ambas, este Dossiê tem como objetivo promover perspectivas metodológicas que, alinhadas com perspectivas epistemológicas e teóricas críticas, tenham como propósito transcender binarismos recorrentes como Ordem e Anarquia, Guerra e Paz, Homem e Mulher, Desenvolvido e Subdesenvolvido, Sociedade e Estado, entre outros, através de técnicas metodológicas que valorizem e ouçam o que os sujeitos participante da pesquisa têm a dizer.

Assim, a pesquisa de campo é vista nesta proposta como um tipo de pesquisa em que o/a pesquisador/a participa, cumprindo as tarefas de observar, registrar (Burgess, 2006), participar e dialogar com aqueles/as cujas vidas estão sendo examinadas na pesquisa. Para tanto, acolher-se-á trabalhos empíricos que contribuam para fomentar a pesquisa de campo em RI e na CP, mas também trabalhos teóricos que tenham como finalidade a discussão das inúmeras possibilidades de técnicas metodológicas de pesquisa de campo que podem ser trabalhadas nas Relações Internacionais e na Ciência Política. Desta forma, etnografias, etnografias políticas, entrevistas semiestruturadas, entrevistas em profundidade, histórias orais, observações participantes, pesquisa militante, são algumas das técnicas metodológicas encorajadas por este Dossiê.

REFERÊNCIAS

ACKERLY, Brooke. TRUE, Jaqui. Reflexivity in Practice: Power and Ethics in Feminist Research on International Relations. International Studies Review. Vol. 10, pp. 693-707, 2008).

BURGESS, Robert G. In the Field: An Introduction to Field Research. Routledge, New York, 2006.