A redução de danos nas cenas abertas de uso de crack e outras drogas ilegalizadas: A perspectiva dos trabalhadores da saúde

Autores

  • Yamila Soledad Abal UFMT
  • Silvia Angela Gugelmin UFMT

DOI:

https://doi.org/10.5752/P.2595-7716.2018v1n1p24-43

Palavras-chave:

Drogas, Cuidados em saúde, Trabalhadores da saúde Proibicionismo, Redução de danos.

Resumo

Existem dois posicionamentos políticos para o tratamento de questões relacionadas ao uso de drogas: o proibicionismo-abstencionismo e a redução de danos. Cada um desses posicionamentos parte de pressupostos ideológicos diferentes e, em consequência, produzem modelos de atenção também distintos. O presente estudo faz parte de um trabalho de campo realizado para a construção de uma dissertação sobre as relações que se estabelecem entre pessoas que habitam cenas abertas de uso de crack e outras drogas ilegalizadas e os dispositivos de cuidados em saúde na cidade de Cuiabá - Mato Grosso.
Sob uma perspectiva crítica em relação ao paradigma proibicionista, e com base na inspiração etnográfica, se analisam as narrativas e práticas de trabalhadores de saúde que atuam com população em situação de rua no centro histórico de Cuiabá, buscando entender como a redução de danos é incorporada em sua práticas cotidianas vinculadas aos cuidados em saúde.
Os resultados apontam que, embora todos os entrevistados definam suas intervenções como práticas norteadas pela redução de danos, nas falas não só existem discordâncias em relação aos modos de conceber tal perspectiva, mas também pode se perceber a presença de vários elementos do modelo proibicionista-abstencionista.
Em cada espaço estudado coexistem elementos de ambas as perspectivas, e inclusive olhares divergentes entre os membros de uma mesma equipe, demonstrando que ainda há um longo caminho a percorrer para a consolidação da redução de danos e do exercício efetivo de cidadanias ativas.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Yamila Soledad Abal, UFMT

Licenciada em Sociologia. Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso. Mestranda. yamila.abal@gmail.com. Av. San Juan 3346. Dpto 6 – Ciudad Autónoma de Buenos Aires – Argentina (Codigo Postal C1233ABQ) Tel. (+54) 9 11 3038-6893.

Silvia Angela Gugelmin, UFMT

Doutora em Saúde Pública. Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso. Professor Adjunto. sigugel@gmail.com. Av. Fernando Correa da Costa, 2367 - Bloco CCBS III, 1º piso - Boa Esperança – Cuiabá – MT CEP 78.060-900. Tel. (+55) (65) 3615-6252.

Referências

ALVES, Vânia. Modelos de atenção à saúde de usuários de álcool e outras drogas: discursos políticos, saberes e práticas. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro, v. 25, n. 11, p. 2309-2319, 2009.

ANDRADE, Tarcísio Matos de. Reflexões sobre políticas de drogas no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 16, n. 12, p. 4665-4674, 2011.

AYRES, J.R.; JÚNIOR, I.F.; CALAZANAS, G.J.; FILHO, H.C. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In: CZERESNIA, D. (Org.). Promoção da saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2009. p. 117-139.

BECKER, H. Outsiders. Estudos de sociologia do desvio. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.

BRASIL. Ministério da Saúde (BR). A Política do Ministério da Saúde para atenção integral a usuários de álcool e outras drogas [internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2003. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pns_alcool_drogas.pdf> Acesso em: 03 jun. 2016.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Meta Instituto de Pesquisa de opinião. Pesquisa Nacional sobre a População em situação de rua, 2008. Disponível em: <http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2015/agosto/14/sumario-executivo-pop-rua.pdf>. Acesso em: 07 jun. 2018.

BRASIL. Ministério da Saúde (BR). Portaria nº 1.190, de 4 de junho de 2009. Institui o Plano Emergencial de Ampliação do Acesso ao Tratamento e Prevenção em Álcool e outras Drogas no Sistema Único de Saúde - SUS (PEAD 2009- 2010) e define suas diretrizes gerais, ações e metas. Diário Oficial da União. Brasília, 2009.

BRASIL. Ministério da Saúde (BR). Portaria nº 3088, de 23 de dezembro de 2011. Institui a Rede de Atenção Psicossocial para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde. Diário Oficial da União. Brasília, 2011a.

BRASIL. Ministério da Saúde (BR). Portaria nº 122, de 25 de janeiro de 2011. Define as diretrizes de organização e funcionamento das Equipes de Consultório na Rua. Diário Oficial da União. Brasilia, 2011b.

DELEUZE, Gilles. Spinoza, filosofía práctica. Buenos Aires: Fabula Tusquets; 2004.

ESCOHOTADO, Antonio. Historia general de las drogas. 7.ed. Madrid: Alianza Editorial;

ARTIGOS CIENTÍ FICOS

REVISTA DO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS – PUC MINAS – V. 1, N. 1; P. 24 – 43, 2018.

GOFFMAN, Erving. Estigma. Notas sobre a Manipulação da Identidade deteriorada. Brasil: Zahar; 1980.

HUSSERL, Edmund. La Idea de la fenomenología. Madrid: Fondo de Cultura Económica, 1982.

MACHADO, L.V.; BOARINI, M.L. Políticas sobre drogas no Brasil: a estratégia de redução de danos. Psicologia: Ciência e Profissão. Brasília, v. 33, n. 3, p. 580-595, 2013.

MEDEIROS, Regina. Construção social das drogas e do crack e as respostas institucionais e terapêuticas instituídas. Saúde e Sociedade, Sao Paulo, v. 23, n. 1, p. 105-117, 2014.

MERHY, Emerson. Saúde: A cartografía do trabalho vivo. São Paulo: Hucitec; 2002. MERHY, Emerson. Anormais do desejo: os novos não humanos? Os sinais que vêm da vida cotidiana e da rua. In: Conselho Federal de Psicologia. Grupo de Trabalho de Álcool e outras Drogas. Drogas e cidadania: em debate. Brasília: CFP; 2012. p. 9-18.

MARCONDES, Danilo. Textos básicos de ética: de Platão a Foucault. 4.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009.

NOWLIS, Helen. La verdad sobre la droga: la droga y la educación. 2° ed. Mayenne (Francia): Unesco; 1981.

NUNES, Everardo Duarte. Sobre la historia de la salud pública en el Brasil: revisando algunos estudios. Cuaderno de Historia No. 80. [online]. 1995. Disponível em: <http://www.bvs.sld.cu/revistas/his/vol_1_95/his08195.htm.>. Acessado em: 15 set.2017.

PETUCO, Dênis Roberto da Silva. Redução de Danos – outras palavras sobre o cuidado de pessoas que usam álcool e outras drogas. [online]. s.d. Disponível em: <http://conselheiros6.nute.ufsc.br/ebook/medias/pdf/Redu%C3%A7%C3%A3o%20de%20Danos%20%E2%80%93%20outras%20palavras%20sobre%20o%20cuidado%20de%20pessoas%20que%20usam%20%C3%A1lcool%20e%20outras%20drogas.pdf>. Acessado em: 15 set. 2017.

PETUCO, Dênis Roberto da Silva. Redução de danos: das técnicas à ética do cuidado. In: Ramminger T e Silva M, organizadores. Mais substâncias para o trabalho em saúde com usuários de drogas. Porto Alegre: Rede Unida; 2014. p. 133-148.

RODRIGUES, Thiago. Drogas, proibição e a abolição das penas. In: PASSETTI, Edson (org.). Curso livre de abolicionismo penal. Rio de Janeiro: Revan, 2004. p. 31-51.

ROMANI, Oriol. Las drogas. Sueños y razones. Barcelona: Ariel; 1999.

ARTIGOS CIENTÍ FICOS

REVISTA DO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS – PUC MINAS – V. 1, N. 1; P. 24 – 43, 2018.

ROMANI, Oriol. Políticas de drogas: prevención, participación y reducción del daño. Salud colectiva. 2008; 4(3): 301-318.

SODELLI, Marcelo. A abordagem proibicionista em desconstrução: compreensão fenomenológica existencial do uso de drogas. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 15, n. 3, p. 637–644, 2010.

TAUSSIG, Michael. La reificación y la conciencia del paciente. Un gigante en convulsiones. In: El mundo humano como un sistema nervioso en emergencia permanente. Barcelona: Gedisa; 1995. p. 110-43.

ZORRILLA, Carlos González. Drogas y control social. Poder y control. Barcelona: Universidad de Barcelona; [online]. 1987. Disponível em: <https://es.scribd.com/doc/307153974/DROGAS-Y-CONTROL-SOCIAL-doc >. Acesso em: 08 jun. 2016.

Downloads

Publicado

2018-10-10

Como Citar

Abal, Y. S., & Gugelmin, S. A. (2018). A redução de danos nas cenas abertas de uso de crack e outras drogas ilegalizadas: A perspectiva dos trabalhadores da saúde. Em Sociedade, 1(1), 24–43. https://doi.org/10.5752/P.2595-7716.2018v1n1p24-43