A BAHIA DEU RÉGUA E COMPASSO? MÉDICOS BAIANOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA MEDICINA LEGAL NA PRIMEIRA REPÚBLICA:
O CASO DE OSCAR FREIRE DE CARVALHO EM SALVADOR E EM SÃO PAULO (1883-1923)
Resumo
A montagem do Estado e do aparato de governança republicana entre as décadas de 1890 e 1920 agregou oligarquias de diferentes regiões do Brasil e abrangeu diversas instituições e áreas de intervenção social. Nesse processo multifacetado, os médicos egressos da Faculdade de Medicina da Bahia (FMB) exerceram destacada influência como difusores de regimes de verdade científica, e espalharam-se pelo país como vetores de modernização do Estado e da sociedade patriarcal brasileira, na esteira do colapso do sistema escravista. Neste artigo, Oscar Freire de Carvalho (1883-1923) é observado como agente médico soteropolitano no contexto da República, de modo a expor relações sociais que teceu e trazer à tona sua atuação decisiva na institucionalização da medicina legal em Salvador e em São Paulo. Nesse sentido, Freire foi pivô na difusão do projeto de “ensino na perícia” e defendeu a montagem de Institutos modelares de medicina legal posicionados entre as administrações das Faculdades de Medicina e das Polícias Estaduais, concorrendo para estabelecer fundamentos estruturais da institucionalização da especialidade médico forense durante o século XX, em conjunto com outras figuras proeminentes da FMB.
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