ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU: APONTAMENTOS ACERCA DE CONSTRUÇÕES DISCURSIVAS SOBRE O SUICÍDIO, DIFUNDIDAS PELO JORNALISMO MINEIRO, DE 1920 A 1940

Resumo

O presente estudo objetivou investigar como o suicídio foi descrito e significado em outros tempos, tendo como principal diretriz para análise, compreender a vinculação sócio-histórica destes significados e descrições. Realizou-se um levantamento hemerográfico no repositório de periódicos da “Hemeroteca Digital Brasileira”, em busca de matérias veiculadas em periódicos mineiros, no período de 1920 a 1940, que tiveram o suicídio como temática central. Às matérias encontradas foi aplicada a análise de conteúdo. Os resultados evidenciaram que o trabalho do redator é, em si, um trabalho de enunciação, sobre o qual subjazem escolhas, ênfases e omissões, que culminam, inevitavelmente, em interpretações. Como possíveis condições de noticiabilidade do suicídio constatou-se: o evento estar envolto em alguma dimensão investigativa-policial; possuir dimensão de continuidade e, portanto, estar de alguma maneira ligada a outra notícia; reconhecimento social dos atores envolvidos; e, possibilidade de disseminação de lições a partir do caso que se noticiava. As descrições sobre o suicídio institucionalizadas nas matérias analisadas recorreram a termos e significados historicamente associados à prática, sendo consensuais no que tange à tragicidade da morte por suicídio. Consonante à qualificação pejorativa da prática, os suicidas também eram descritos sob termos depreciativos. Todavia, quando se evocava a dimensão do sofrimento e da presença de patologias, o julgamento dado pelos redatores era mais compassivo. Evidencia-se a presença de certas formas de significação do suicídio, forjadas em tempos ainda mais remotos, e também de rupturas, sobretudo com as formas que o significam como liberdade ou honra.