UM TRABALHO IMPOSSÍVEL? Análise da atividade de psicólogos nas prisões

Autores

  • Rodrigo Padrini Monteiro Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais
  • Carlos Eduardo Carrusca Vieira PUC Minas
  • Leonardo Silva Miranda PUC Minas

Palavras-chave:

Psicologia, Prisões, Clínicas do Trabalho, Direitos Humanos, Ética

Resumo

Discutir o trabalho de psicólogos nas prisões é abordar uma realidade historicamente marcada por dispositivos punitivos e de controle social, em um cenário de precariedade material, onde a violação de direitos humanos é uma constante. Isto posto, surge a necessidade de compreender a atividade desses profissionais, ainda pouco conhecida e discutida, não só pela sociedade, mas pela própria Psicologia, na medida em que se entende que os impactos causados por essa instituição afetam tanto as pessoas confinadas como todos os outros indivíduos, direta ou indiretamente vinculados a ela.

No contexto brasileiro, no qual as prisões são ocupadas predominantemente pela repressão e pela violência, Rodrigo Padrini Monteiro, com base em sua própria experiência profissional, buscou compreender, em sua tese de doutorado, a experiência e os sentidos atribuídos por psicólogos que atuam no sistema prisional à sua atividade. Partindo de uma perspectiva teórico-metodológica calcada na Psicologia do Trabalho, particularmente nas abordagens clínicas, o autor partiu da centralidade social e psíquica do trabalho para investigar as relações entre saúde e adoecimento, e os processos de subjetivação.

A tese defendida pelo autor, logo anunciada em sua introdução, é de que as exigências do trabalho real nas prisões e os obstáculos decorrentes dos atravessamentos institucionais colocam o psicólogo em uma situação de contradição, de sofrimento e de submissão à dinâmica da segurança e à lógica punição. Sendo assim, os profissionais são levados a não se apropriarem da sua prática de forma crítica, sendo conduzidos ao empobrecimento e à burocratização de sua atividade, além de naturalizar, de certa forma, violações de direitos dos presos e a deslegitimação de sua própria autonomia profissional.

A pesquisa de metodologia qualitativa, do tipo estudo de caso, envolveu 30 psicólogos que atuavam em prisões do estado de Minas Gerais, tendo sido realizadas observações in loco nas unidades prisionais, entrevistas individuais e grupos de discussão. Além disso, a investigação contou com dispositivos de análise documental e pesquisa bibliográfica para a elaboração das entrevistas, triangulação e categorização dos dados.

Para apresentar e discutir os resultados, o autor elaborou cinco categorias de análise, sendo estas: identidade profissional; trabalho sujo e sentido do trabalho; precarização e empobrecimento da atividade; naturalização de violações de direitos e da autonomia; e, por fim, resultados do trabalho, garantias e estratégias de resistência.

De modo geral, o pesquisador destaca os desafios enfrentados pelos psicólogos no ambiente prisional, incluindo a falta de formação adequada e a presença de uma identidade profissional frágil e frequentemente controversa, especialmente devido à escassez de um gênero profissional vivo, que ampare o indivíduo e possibilite novas formas de existir. Além disso, ressalta a visão negativa da sociedade quanto ao trabalho dos psicólogos nas prisões, visto como privilégio dos presos, em contraste com a percepção positiva dos profissionais, que se relaciona ao cuidado, por meio da garantia de direitos e assistência à saúde. Sinalizando os impactos institucionais que levam ao desgaste, o pesquisador explora um de seus argumentos centrais, analisando o aprisionamento, pelos trabalhadores, de suas formas de viver o trabalho, observando como eles podem internalizar práticas prejudiciais aos presos e a si próprios, devido à gestão autoritária ou como estratégia de sobrevivência, reproduzindo a lógica punitiva e violenta da instituição.

Concluindo, ao retomar o título da pesquisa, é possível constatar que, “se não impossível, o trabalho dos psicólogos nesse contexto é extremamente limitado, desvalorizado, rechaçado e impedido” (p.147). O autor indica que devemos considerar a complexidade da questão prisional ao pensarmos saídas possíveis para modificar esse cenário, colocando o coletivo como um elemento chave para se criar alternativas à realidade descrita. Por fim, o autor propõe a criação de espaços coletivos de discussão qualificada sobre a atividade, para promover a saúde dos psicólogos, fortalecer seu poder de agir e sua crítica sobre o trabalho, levantando, ainda, questionamentos para a Psicologia e suas práticas, em suas relações com o sistema de justiça e garantia dos direitos humanos.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Rodrigo Padrini Monteiro, Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais

Psicólogo, Mestre e Doutor em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC Minas, com Pós Graduação Lato Sensu em Psicodrama pelo Instituto Mineiro de Psicodrama - IMPSI. É Analista na Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais e atua na Diretoria de Atenção à Saúde do Servidor, responsável pela promoção, proteção e prevenção da saúde do trabalhador. Com experiência na área da Psicologia Social e do Trabalho, particularmente nas abordagens Clínicas do Trabalho, se interessa principalmente pelo tema da Segurança Pública, Políticas Públicas e Instituições.

Carlos Eduardo Carrusca Vieira, PUC Minas

Pós-doutor em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPG-Psi) da PUC Minas. Doutor e Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Graduado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). É professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Faculdade de Psicologia da PUC Minas e desenvolve estudos em Psicologia do Trabalho, contemplando as dimensões políticas, psicossociais, ergonômicas e organizacionais do trabalho. Atuou como Coordenador do Curso de Psicologia da PUC Minas São Gabriel (2017-2022) e docente convidado do curso de Psicologia, da Universidad de La Sabana (Colômbia), no período de novembro a dezembro de 2016, em curso de curta duração (40h) e como docente convidado de 2020 a 2023. É membro da Comissão Editorial do periódico Psicologia em Revista (PUC Minas) e editor associado da Revista Brasileira de Saúde Ocupacional (RBSO). É autor dos livros "Traumas no Trabalho - uma nova leitura do Transtorno de Estresse Pós-traumático" (editora Juruá, 2014), "Assédio: do moral ao psicossocial - desvendando os enigmas da organização do trabalho" (editora Juruá, 2008), "O cotidiano dos vigilantes: trabalho, saúde e adoecimento" (org. e autor) (editora Fumarc, 2010), e coordenador do setor de Psicologia do Núcleo de Apoio Psicológico aos Vigilantes Vítimas de Violência no Trabalho (NAPSI). Organizou com o Núcleo de Estudos Sociopolíticos da PUC Minas (NESP), o livro "Cem Anos com Paulo Freire: Diálogos" (2021), publicado pela editora PUC Minas. Atuou profissionalmente com atividades de capacitação profissional para equipes de saúde e segurança, primeiros auxílios psicológicos, consultoria e outras, junto a diferentes instituições públicas e privadas, como, por exemplo, Tribunal Regional Eleitoral (MG), Petrobrás (RJ), Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (SEJUSP - MG), Sindicato dos Vigilantes de Minas Gerais, Sindicato dos Bancários (MG), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Secretaria de Saúde do Governo do Estado de São Paulo e CERESTs, Fundação Jorge Duprat Figueiredo, de Segurança e Medicina do Trabalho (FUNDACENTRO, SP), entre outras instituições. Membro da Red Iberoamericana de Psicología de las Organizaciones y del Trabajo ? RIPOT.

Leonardo Silva Miranda, PUC Minas

Graduando do curso de Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Bolsista em Iniciação Científica com ênfase em Psicologia do Trabalho. Apoio técnico e pesquisador do Grupo de Pesquisa Psicologia, Trabalho e Processos Psicossociais (PSITRAPP).

Referências

Monteiro, R. P. UM TRABALHO IMPOSSÍVEL? Análise da atividade de psicólogos nas prisões. Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Pontifícia Universi-dade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2022.

Downloads

Publicado

2024-12-31

Como Citar

MONTEIRO, Rodrigo Padrini; VIEIRA, Carlos Eduardo Carrusca; MIRANDA, Leonardo Silva. UM TRABALHO IMPOSSÍVEL? Análise da atividade de psicólogos nas prisões. Pretextos - Revista da Graduação em Psicologia da PUC Minas, Belo Horizonte, v. 9, n. 17, p. 480–481, 2024. Disponível em: https://periodicos.pucminas.br/pretextos/article/view/32672. Acesso em: 30 abr. 2025.

Edição

Seção

Resumos de Dissertações e Teses