OS PAPÉIS DO ONDE NO DISCURSO

Resumo

Partindo da premissa de que a língua é heterogênea, variável e seu estudo não se esgota na análise de propriedades intrínsecas, o presente estudo analisa o processo pelo qual o item onde, qualificado pela gramática normativa como pronome relativo, advérbio relativo e advérbio interrogativo, vem passando há alguns anos, sendo este denominado processo de gramaticalização. O processo de gramaticalização é o caminho percorrido por uma palavra, ao longo do qual ela muda de categoria sintática, sofre alterações semânticas, morfológicas, fonológicas etc. Desde as séries iniciais, o que se tem observado nas aulas de português em termos de ensino da escrita está estritamente ligado ao uso conveniente da norma padrão, o qual, muitas vezes, desconsidera os fenômenos da língua. Neste sentido, investigar o funcionamento do onde no discurso em comparação ao seu funcionamento normativo se torna caro para nós, pois esta prática nos possibilita ampliar a nossa compreensão em relação ao processamento discursivo, que, muitas vezes, ultrapassa o nosso conhecimento normativo gramatical. Para tanto, apoiamo-nos nos autores Castilho (2004), Costa Val (2004) e Marinho (1998, 1999, 2002, 2005), os quais discutem o uso da língua sob uma perspectiva linguística, e os autores Cegalla (2007), Cunha e Cintra (2008) e Bechara (2009), os quais discutem o uso da língua numa perspectiva normativa. Para compor o corpus deste estudo, foram selecionados dez excertos retirados de textos acadêmicos para serem analisados. Ao fim do estudo, concluímos que o item onde está exercendo diferentes papéis dos prescritos pela gramática normativa, mas sem perder sua propriedade locativa, que, muitas vezes, vem na forma de local abstrato/nocional, retomando lugares não físicos.