AMILOIDOSE RENAL FAMILIAR EM DOIS CÃES DA RAÇA SHAR-PEI

Autores

  • Juliana Masiero
  • Felipe Gaia de Sousa Universidade Federal de Minas Gerais
  • Fabiana Queiroz Universidade Federal de Minas Gerais
  • Suzane Beier Universidade Federal de Minas Gerais
  • Júlio Cambraia Veado Universidade Federal de Minas Gerais

Palavras-chave:

Deposição Glomerular, Doença Renal Crônica, Proteína Amiloide

Resumo

INTRODUÇÃO: As glomerulopatias são doenças de caráter grave e prejudicial ao sistema genitourinário, e estão associadas com o desenvolvimento de alterações estruturais e/ou funcionais, de forma aguda ou crônica (VADEN, 2011). De forma geral, as doenças glomerulares, sejam elas primárias ou secundárias, podem se manifestar de diferentes maneiras, indo desde apresentações sem sinais clínicos, á manifestações clínicas com evolução progressiva, dependendo da causa de origem. A amiloide renal é uma doença de grave impacto clínico, caracterizada pela deposição heterogênea de proteína fibrilar amiloide na região dos glomérulos e em alguns casos nos túbulos, promovendo, nestes danos estruturais e comprometimento funcional (SONNE et al., 2008; WOLDEMESKEL et al., 2012). Os sinais clínicos associados com os quadros de amiloidose renal são derivados primariamente da falha no funcionamento renal, o que com o avançar da doença pode evoluir para doença renal crônica (DRC). O objetivo deste trabalho é relatar dois casos de amiloidose renal de origem familiar em cães da raça Shar-pei. MATERIAL E MÉTODOS: Em momentos diferentes, com intervalo de um ano, dois cães da raça Shar-pei (pai e filho), foram atendidos com histórico de perda de peso progressiva, inapetência e vômitos. O primeiro cão (cão número 1) 3 anos de idade, da raça Shar-pei foi levado à clínica veterinária na região metropolitana de Belo Horizonte/MG para avaliação veterinária após queixa de apresentar emagrecimento progressivo, inapetência e vômitos há cerca de 15 dias. Após a realização do exame clínico, observou-se desidratação (6%), mucosas hipocoradas e com ressecamento leve, tempo de preenchimento capilar de 3 segundos, frequência cardíaca de 128 bpm, respiratória de 28 mpm, escore corporal 4 e muscular 2, e temperatura retal de 38,5ºC. Demais parâmetros e regiões avaliadas sem alterações dignas de nota. Solicitou-se a realização de hemograma, bioquímica sérica, urinálise, sorologia para leishmaniose (ELISA e RIFI) e exame ultrassonográfico.  Como resultado, o animal apresentava hemograma sem alterações, bioquímica sérica com alterações evidentes (ureia 351 mg/dL e creatinina 10,40 mg/dL), exame de leishmaniose negativo e urinálise com proteinúria (2+), pH 5 e densidade urinária 1,024. Por meio do exame ultrassonográfico, os dois rins apresentavam região cortical espessada, perda de relação córtico-medular e ecogenicidade aumentada, sugerindo a presença de DRC. Diante do observado, a suspeita inicial era de glomerulopatia, com forte indício para amiloidose renal por ser frequente na raça Shar-pei. Durante o período de internação o paciente veio a óbito em virtude da gravidade do quadro. Fragmentos renais foram encaminhados para avaliação histopatológica e, após análise, o diagnóstico de amiloidose renal foi confirmado. Observou-se evidências de aumento glomerular, alterações estruturais com deposição de substância eosinofílica homogênea e fibrilar em glomérulos e túbulos renais, obliteração de capilares e dilatação tubular. Aproximadamente um ano após, um segundo animal (cão número 2), da mesma raça, 4 anos de idade, filho do cão número 1, foi submetido a avaliação clínica por apresentar o mesmo histórico de emagrecimento crônico e inapetência. Após o exame clínico, observou-se mucosas ressecadas e hipocoradas, escore corporal 4, muscular 2, desidratação 8%. Demais parâmetros dentro da normalidade para a espécie. Diante do histórico e da possibilidade de transmissão hereditária da amiloidose do cão número 1, quer seja de pai para filho, solicitou-se exames de imagem e laboratoriais, incluindo testagem para leishmaniose, do segundo animal. RESULTADOS e DISCUSSÃO: Observou-se anemia normocítica normocrômica (discreta regeneração), trombocitopenia, azotemia (ureia de 215 mg/dL e creatinina de 2,8 mg/dL), proteína e creatinina urinária de 344,40 e 71,25 mg/dl, respectivamente, e razão proteína/creatinina urinária 4,833. Como complicador do quadro renal o animal apresentou resultado positivo para leishmaniose. A ultrassonografia evidenciou os mesmos achados descritos no primeiro animal, caracterizando DRC. Embora tenha recebido tratamento adequado, o segundo animal também veio óbito, em virtude da gravidade do quadro. Amostras dos rins foram coletadas e enviadas para análise histopatológica. As evidências observadas após a análise dos fragmentos, como material de aspecto proteináceo glomerular e tubular renal, suportaram o diagnóstico de amiloidose renal. Frequentemente a amiloidose é diagnosticada em animais jovens, especialmente considerando o fator hereditário associado, com maior ocorrência para a faixa etária de 1-6 anos (GRECO, 2001). Os animais do presente relato tinham idade de 3 e 4 anos ao diagnóstico, estando dentro do faixa etária descrita por Greco (2001). Algumas raças como Shar-pei e Beagles são consideradas como predispostas para amiloidose (SONNE et al., 2008; SEGEV et al., 2012). Corroborando com os dados descritos acima, ambos os cães eram da raça Shar-pei. Diante do componente familiar associado, a recomendação preconizada é que cães portadores de amiloidose não sejam colocados em programas de reprodução, de modo a evitar a disseminação da doença. Ressalta-se que não há tratamento específico para os quadros de amiloidose, sendo necessário oferecer manejo terapêutico de suporte e qualidade de vida. Ademais, os tutores devem ser amparados durante a determinação diagnóstica por ser tratar de uma doença exaustiva para ambos, de alto investimento financeiro, baixa qualidade de vida, redução da expectativa etária e de prognóstico desfavorável. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Diante do exposto, observa-se que a amiloidose renal é uma doença grave, com prejuízos clínicos, emocionais e financeiros associados para os animais afetados e seus tutores. Diante de paciente diagnosticado, ficar atento aos seus familiares, visto o risco de transmissão genética para a doença. Reforça-se aqui, a importância da recomendação médico veterinário de evitar que esses animais entre em programas de reprodução, recomendado, inclusive, a castração desses animais.

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Biografia do Autor

Juliana Masiero

Universidade Federal de Minas Gerais

Felipe Gaia de Sousa, Universidade Federal de Minas Gerais

Universidade Federal de Minas Gerais

Fabiana Queiroz, Universidade Federal de Minas Gerais

Universidade Federal de Minas Gerais

Suzane Beier, Universidade Federal de Minas Gerais

Universidade Federal de Minas Gerais

Júlio Cambraia Veado, Universidade Federal de Minas Gerais

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Publicado

2023-07-16

Como Citar

Masiero, J., de Sousa, F. G., Queiroz, F., Beier, S., & Cambraia Veado, J. (2023). AMILOIDOSE RENAL FAMILIAR EM DOIS CÃES DA RAÇA SHAR-PEI. Sinapse Múltipla, 12(1), 07–10. Recuperado de https://periodicos.pucminas.br/sinapsemultipla/article/view/30647