Relendo as memórias: a questão das memórias em As visitas do Dr. Valdez, de João Paulo Borges Coelho
DOI:
https://doi.org/10.5752/P.2358-3231.n32p55-66Resumo
O presente trabalho ancora-se no estudo do romance As visitas do Dr. Valdez, de João Paulo Borges Coelho a partir da perspectiva memorialística. Ao se tomar como premissa a ideia de que há, nos dias atuais, uma obsessão pela memória, intenta-se mostrar como o romance de Borges Coelho se apropria da questão memorialística. Procura-se ressaltar que as memórias encenadas na narrativa circunscrevem não apenas o indivíduo, mas também a memória coletiva dos espaços e das nações encenadas. Procura-se investigar as relações entre memória individual e memória coletiva e histórica, principalmente, com o objetivo de demonstrar que, da mesma maneira que as identidades passam por processos de negociação, a memória também tem que ser negociada para que uma única voz não se sobreponha ao processo de recuperação das memórias, legitimando-se, assim, como verdade absoluta. Portanto, intenta-se ler na narrativa as muitas vozes, identidades, tradições e memórias que se entrecruzam para demonstrar como os discursos marginais, pelos caminhos da ficção, emergem do silenciamento, questionando seus espaços e rompendo com a memória hegemônica, privilegiada pela versão da historiografia.O trabalho “Relendo as memórias” problematiza a questão de como a memória é assumida, de forma contundente, nas sociedades modernas e particularmente pelo gênero romance. Para além de considerar-se o que Andreas Huyssen (2000) afirma ser uma característica do mundo atual, a obsessão pelas memórias, busca-se, à luz dos estudos de Michael Pollak (1989), compreender os modos como, no romance em questão, as memórias marginais e subterrâneas são negociadas e se imbricam à ideia de construção da nação moçambicana. Destaca-se a importância dos estudos de Paul Ricouer (2008) sobre a relação entre memória e história, o que permite perceber como dados e fatos históricos são retomados na narrativa de Borges Coelho. A correlação entre memória e construção identitária é importante de ser pensada no âmbito deste trabalho, pois, no romance há personagens que assumem determinadas construções identitárias em virtude do jogo entre rememoração e esquecimento. O esquecimento, como pontua Paul Ricouer, funciona para personagens do romance como uma espécie de fuga, o que torna o jogo entre lembrança e esquecimento de extrema importância na análise da narrativa romanesca.
Palavras-chave : Romance. Memórias. Nação. Identidade
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Referências
HAMPATÊ BÂ, Amadou Hampâté. A tradição viva. In: KI-ZERBO, Joseph (Coord.). História geral da África. S. Paulo: Ática; Paris: UNESCO, 1982.
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RICHARD, Nelly. Políticas da memória e técnicas do esquecimento. In: MIRANDA, Wander Melo (Org.). Narrativas da modernidade. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.
RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. São Paulo: UNICAMP, 2008.
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