Não somos selvagens: cultura política dos índios no Ceará (1799-1822) (We are not wild: Indian’s political culture in Ceará (1799-1822))

Auteurs-es

  • João Paulo Peixoto Costa Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)/ Instituto Federal do Piauí (IFPI)

DOI :

https://doi.org/10.5752/P.2237-8871.2016v17n26p83

Mots-clés :

Índios. Cultura política. Ceará.

Résumé

O espaço social imaginado para os índios na América portuguesa, entre meados do século XVIII e início do XIX, os colocava em uma ambiguidade. Mesmo estando em situação de equidade com os brancos enquanto vassalos régios, eram caracterizados como ainda sujeitos a uma espécie de “menoridade moral”. Entre a construção da imagem dessa população associada à barbárie e a ação política dessas comunidades em suas povoações, chama atenção a procura constante dos índios em identificar-se enquanto súditos do rei e merecedores dos direitos que lhes eram garantidos e que bem conheciam. Diante desses conflitos, o objetivo é contrastar a imagem de “entregues à natureza” construída pelos governadores com a cultura política dos índios vilados no Ceará, omitida dos registros do governo, apesar de sua presença latente.

 

Abstract

The social space imagined for the Indians in Portuguese America, between the mid-eighteenth century and early nineteenth century, put them in an ambiguity. Even though they are in a situation of equality with the white men known as vassals, were characterized as still subject to a kind of "moral minority". Between the construction of the image associated with this barbarism and the political action of these communities in their towns’ population, it points out the constant pursuit of the Indians in order to identify themselves as subjects of the king and deserving of rights that were guaranteed and that they knew well. Given these conflicts, the goal is to contrast the image of  “delivered to nature” which is built by the governors with the political culture of Indians in Ceará, that are omitted from the records of the government, despite its latent presence.

Keywords: Indians. Political culture. Ceará.

Téléchargements

Les données relatives au téléchargement ne sont pas encore disponibles.

Biographie de l'auteur-e

João Paulo Peixoto Costa, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)/ Instituto Federal do Piauí (IFPI)

Professor do Instituto Federal do Piauí, campus de Corrente. Doutorando em História Social pela Universidade Estadual de Campinas. Mestre em História do Brasil pela Universidade Federal do Piauí. Graduado em História pela Universidade Federal do Ceará. Pesquisa história indígena no Ceará na primeira metade do século XIX, com ênfase em política indígena e indigenista.

Références

Fonte primária

A CORRESPONDÊNCIA de Bernardo Manoel de Vasconcelos e João Carlos Augusto d’Oyenhausen com os ministros D. Rodrigo de Souza Coutinho e Visconde de Anadia como subsídio para a história de seus governos. Revista do Instituto do Ceará. Fortaleza: tomo III, 1889. p. 141-153.

ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ. Governo da Capitania. Do governador Luiz Barba Alardo de Menezes. Registro do ofício dirigido ao sargento mor José Severino de Vasconcelos diretor de Monte mor o Novo. Livro 40. Fortaleza, 19 de janeiro de 1811. p. 122.

ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ. Governo da Capitania. Do governador Luiz Barba Alardo de Menezes. “Registro do ofício dirigido ao juiz ordinário da vila de Monte mor o Novo, em resposta da [?] que deu do motim que houve dos índios da dita vila”. Livro 40. Fortaleza, 19 de janeiro de 1811. p. 123.

ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ. Governo da Capitania. Do governador Francisco Alberto Rubim. “Ofício dirigido ao ouvidor pela lei desta comarca da Fortaleza Adriano José Leal”. Livro 101. Fortaleza, 13 de novembro de 1820. p. 95.

ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ. Governo da Capitania. Do Conselho Consultivo do governo do Ceará à câmara da vila de Arronches. Livro 32. Fortaleza, 06 de outubro de 1821. p. 03v.

ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ. Governo da Capitania. Do Conselho Consultivo do governo do Ceará à câmara da vila de Arronches. Livro 32. Fortaleza, 15 de outubro de 1821. p. 04v.

ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ. Governo da Capitania. Do secretário do governo José de Castro Silva. “Ao ouvidor interino desta comarca, remetendo-lhe uma representação de vários habitantes de Vila Viçosa, para dar providências sobre ela”. Livro 98. Fortaleza, 30 de maio de 1822. p. 58v.

ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ. Governo da Capitania. Do secretário do governo José de Castro Silva. “Ao juiz ordinário da Granja para a sua marcha à vila Viçosa, para tomar conhecimento dos fatos alegados na representação que abaixo se declara”. Livro 98. Fortaleza, 03 de junho de 1822. p. 61.

ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ. Governo da Capitania. Do secretário do governo José de Castro Silva. “Ao juiz da Granja, remetendo-lhe uma denúncia para conhecer dela”. Livro 98. Fortaleza, 01 de julho de 1822. p. 74.

ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ. Governo da Capitania. Do secretário do governo José de Castro Silva. “Ao sargento dos índios de Vila Viçosa, acusando a sua representação de 31 de julho”. Livro 98. Fortaleza, 09 de agosto de 1822. p. 97v.

ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ. Governo da Capitania. Do secretário do governo José de Castro Silva. “Ao sargento mor diretor geral, sobre negócios de índios de Arronches”. Livro 98. Fortaleza, 17 de setembro de 1822. p. 114.

ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ. Governo da Capitania. Do Conselho Consultivo do governo do Ceará à câmara da vila de Arronches. Livro 32. Fortaleza, 23 de setembro de 1822. p. 29.

BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL. Iconografia, E-4673-P. SILVA, Henrique José da. Francisco Bento Maria Targini, Visconde de São Lourenço. In: POPE, Alexandre. Ensaio sobre o homem. Tradução: Francisco Bento Maria Targini. Londres, Sociedade Literária da Grã-Bretanha, 1819 (gravura aquarelada). Disponível em: <http://purl.pt/13099>. Acesso em: 02 maio 2014.

Fonte secundária

ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. O lugar dos índios na história entre múltiplos usos do passado: reflexões sobre cultura histórica e cultura política. In: SOIHET, Rachel; ALMEIDA, Maria Regina Celestino de; SÁ, Cecília; GONTIJO, Rebeca (Org.). Mitos, projeto e práticas políticas: memória e historiografia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.

ALMEIDA, Rita Heloísa de. O Diretório dos Índios: um projeto de “civilização” do Brasil do século XVIII. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1997.

BARTH, Fredrick. Grupos étnicos e suas fronteiras. In: POUTIGNAT, Philippe. STREIFF-FENART, Jocelyne. Teorias da etnicidade. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1998.

BENSA, Alban. Da micro-história a uma antropologia crítica. In: REVEL, Jacques. Jogos de escala: a experiência da microanálise. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1998.

COSTA, João Paulo Peixoto Costa. Disciplina e invenção: civilização e cotidiano indígena no Ceará (1812-1820). Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal do Piauí, Programa de Pós-graduação em História, Teresina, 2012.

CUNHA, Manuela Carneira da. Política indigenista no século XIX. In: CUNHA, Manuela Carneira da (Org.). História dos índios no Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 1998.

CUNHA, Manuela Carneira da. Cultura com aspas. São Paulo: Cosacnaify, 2009.

DOMINGUES, Ângela. Quando os índios eram vassalos: colonização e relações de poder no Norte do Brasil na segunda metade do século XVIII. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 2000.

LEITE NETO, João. Índios e terras: Ceará: 1850 – 1880. Tese (Doutorado em História) – Universidade Federal de Pernambuco, Programa de Pós-graduação em História, Recife, 2006.

LOPES, Fátima Martins. As mazelas do Diretório dos índios: exploração e violência no início do século XIX. In: OLIVEIRA FILHO, João Pacheco de (Org.). A presença indígena no Nordeste. Rio de Janeiro: Contracapa, 2011.

MAIA, Lígio José de Oliveira. Serra da Ibiapaba. De aldeia a vila de índios: vassalagem e identidade no Ceará colonial – século XVIII. Tese (Doutorado em História) – Universidade Federal Fluminense, Programa de Pós-graduação em História, Niterói, 2010.

MEMÓRIA escrita pelo governador do Ceará, Bernardo Manuel de Vasconcelos, em 1799 sobre a capitania. In: PINHEIRO, Francisco José. Documentos para a história colonial, especialmente a indígena do Ceará (1690-1825). Fortaleza: Fundação Ana Lima, 2011.

MONTEIRO, John Manuel. Tupis, tapuias e historiadores: estudos de história indígena e do indigenismo. Livre-docência – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2001.

SAHLINS, Marshall. Adeus aos tristes trópicos: a etnografia no contexto da moderna história mundial. In: SAHLINS, Marshall. Cultura na prática. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2007.

SAMPAIO, Patrícia Maria Melo. Espelhos partidos: etnia, legislação e desigualdade na Colônia. Manaus: Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2011.

Téléchargements

Publié-e

2016-05-28

Comment citer

COSTA, João Paulo Peixoto. Não somos selvagens: cultura política dos índios no Ceará (1799-1822) (We are not wild: Indian’s political culture in Ceará (1799-1822)). Cadernos de História, Belo Horizonte, v. 17, n. 26, p. 83–101, 2016. DOI: 10.5752/P.2237-8871.2016v17n26p83. Disponível em: https://periodicos.pucminas.br/cadernoshistoria/article/view/P.2237-8871.2016v17n26p83. Acesso em: 4 oct. 2025.

Numéro

Rubrique

Dossiê - Artigos: História e Etnicidade