Imaginário religioso e persistência: estudo dos ritos mortuários judeus à luz da Inquisição portuguesa nas minas setecentistas

Autores

  • Rudney Avelino de Castro Silva Centro em Rede de Investigação em Antropologia (CRIA-IUL)

DOI:

https://doi.org/10.5752/P.2237-8871.2020v21n34p68

Palavras-chave:

Ritos Mortuários, Inquisição portuguesa, Judaísmo

Resumo

Entre os séculos XVI e XVIII, a Inquisição portuguesa promoveu intensa perseguição àqueles que fossem descobertos cometendo desvios contra os costumes da Igreja, punições que eram aplicadas tanto aos que residiam no reino como os que se encontravam nas colônias. Porém, a maior parte dos processos do período da Inquisição é encontrada em arquivos da primeira metade do século XVIII; não coincidência, no auge da exploração aurífera das Minas Gerais. Este trabalho tem por intuito apresentar alguns resultados da análise documental (inventários, testamentos e processos inquisitoriais) de processados pelo Tribunal de Inquisição, com destaque para os acusados de judaísmo e que eram moradores da cidade de Sabará-MG. Os processos analisados mostraram a solicitação, por parte dos réus, de ritos mortuários que foram considerados práticas judaizantes e, por isso mesmo, veementemente reprimidas e combatidas. A principal solicitação dos réus, e que foi reincidente nos testamentos, foi o uso de mortalha. Ainda que o uso da mortalha tenha sido uma prática condenada pelos inquisidores, uma vez que comprovaria a ligação ao judaísmo, é no mínimo curioso quando percebemos que também pertenceu às tradições cristãs. Fazemos aqui uma reflexão do imaginário religioso revelado nessas tradições e buscamos compreender suas nuances, analisar as descontinuidades e permanências e explicar as transformações de sentido ao longo do tempo e responder o porquê de terem sido criminalizadas e perseguidas.

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Biografia do Autor

Rudney Avelino de Castro Silva, Centro em Rede de Investigação em Antropologia (CRIA-IUL)

Possui graduação em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas) e mestrado em Ciências Sociais pelo Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais da PUCMinas - PPGCS PUCMinas. Foi Bolsista de Apoio Técnico a Pesquisa do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) - Nível 1A. Atuou como pesquisador extensionista na Pró-reitoria de Extensão da PUCMINAS, onde exerceu atividades junto ao Instituto da Criança e Adolescente (ICA). Atuou como pesquisador no Centro de Estudos da Religião Pierre Sanchis (CER) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Pesquisador do Instituto Histórico Israelita Mineiro (IHIM) até o ano de 2017. Foi Gerente Pedagógico da Fábrica Social (Governo de Distrito Federal). Prestou Consultoria na Organização dos Estados Iberoamericanos (OEI) na área de governança em instituições de ensino superior nacionais e internacionais, atuando na Coordenação Geral de Assuntos Internacionais para a Educação Superior, no Ministério da Educação (CGAI/MEC). É Gestor de Projetos Europeus no Instituto Europeu para a Cidadania Ativa (For Citizen), que é especialmente dedicado à União Européia e à cidadania européia, com base nos valores dos direitos humanos e na democracia participativa. É Pesquisador Colaborador no Centro em Rede de Investigação em Antropologia (CRIA-IUL). Tem experiência na área de Gestão de Projetos Europeus, Governança, de Historia, de Sociologia, de Antropologia, de Religião, de Política, de Gênero e de Metodologia do Trabalho Científico.

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Publicado

2020-12-02

Como Citar

SILVA, Rudney Avelino de Castro. Imaginário religioso e persistência: estudo dos ritos mortuários judeus à luz da Inquisição portuguesa nas minas setecentistas . Cadernos de História, Belo Horizonte, v. 21, n. 34, p. 68, 2020. DOI: 10.5752/P.2237-8871.2020v21n34p68. Disponível em: https://periodicos.pucminas.br/cadernoshistoria/article/view/25119. Acesso em: 20 ago. 2025.