A NOÇÃO DE SEGREGAÇÃO: O QUE A PSICANÁLISE TEM A NOS DIZER SOBRE ISSO?

Autores

Palavras-chave:

Psicanálise;, Segregação;, Discursos;, Gozo;, Sujeito.

Resumo

O presente artigo tem por objetivo fazer uma breve exposição do que a teoria psicanalítica tem a dizer sobre a noção de segregação, utilizando-se da metodologia de pesquisa bibliográfica. Constatou-se que, para a psicanálise, o termo não carrega consigo apenas uma significação negativa, como apresentada pelo senso comum. Verificou-se, nesta pesquisa, que existem dois aspectos referentes à segregação: uma segregação estrutural e os efeitos de segregação. A segregação estrutural refere-se a uma condição constitutiva de todo sujeito e de todo discurso, posto que eles se organizam a partir do significante-mestre (S1) e dos modos de gozo. No que tange aos efeitos de segregação foi possível observar que há uma diferença crucial do que expõem a teoria freudiana e a teoria lacaniana. Freud apresenta, a partir da análise de sua época, que as massas se alicerçavam sobre um processo de identificação comum a um determinado ideal. O que Lacan observa, entretanto, e que nos serve para um estudo da contemporaneidade, é um declínio desses ideais e o crescimento do gozo como ordenação social. Tal fenômeno ocorre por intermédio de um tipo de relação específica entre o discurso da ciência, que forjou a constituição de um sujeito universal e o discurso do capitalismo, que tem como consequência a globalização de um Mercado Comum. Essa combinação tem como resíduo a dessubjetivação dos sujeitos, que passam a se organizar por meio de campos de concentração de gozo, onde todos visam gozar de forma semelhante e ilimitada. Organiza-se, dessa forma, toda uma sociedade a caminho da segregação, onde aquele que goza diferente é segregado. Por fim, argumenta-se que o discurso do analista oferece uma saída diferente ao impasse da segregação, uma vez que se interessa pelas soluções singulares que cada sujeito constrói para dar conta daquilo que é insuportável.

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Biografia do Autor

Gabrielle Braga Lemos, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Psicóloga graduada pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Pós-graduanda em "Clínica Psicanalítica na Atualidade: contribuições de Freud e Lacan" pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Daniela Paula do Couto, Universidade Federal de Minas Gerais

Psicóloga graduada pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Mestre em Psicologia, na linha de pesquisa Conceitos Fundamentais e Clínica Psicanalítica, pela Universidade Federal de São João del-Rei. Doutoranda em Psicologia, na linha de pesquisa "Conceitos Fundamentais em Psicanálise e Investigações no
Campo Clínico e Cultura", pela Universidade Federal de Minas Gerais.

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Publicado

2022-03-20

Como Citar

LEMOS, Gabrielle Braga; COUTO, Daniela Paula do. A NOÇÃO DE SEGREGAÇÃO: O QUE A PSICANÁLISE TEM A NOS DIZER SOBRE ISSO?. Pretextos - Revista da Graduação em Psicologia da PUC Minas, [S. l.], v. 6, n. 12, p. 328–351, 2022. Disponível em: https://periodicos.pucminas.br/pretextos/article/view/25902. Acesso em: 16 mar. 2025.

Edição

Seção

Artigos de temática livre