A NOÇÃO DE SEGREGAÇÃO: O QUE A PSICANÁLISE TEM A NOS DIZER SOBRE ISSO?
Palavras-chave:
Psicanálise;, Segregação;, Discursos;, Gozo;, Sujeito.Resumo
O presente artigo tem por objetivo fazer uma breve exposição do que a teoria psicanalítica tem a dizer sobre a noção de segregação, utilizando-se da metodologia de pesquisa bibliográfica. Constatou-se que, para a psicanálise, o termo não carrega consigo apenas uma significação negativa, como apresentada pelo senso comum. Verificou-se, nesta pesquisa, que existem dois aspectos referentes à segregação: uma segregação estrutural e os efeitos de segregação. A segregação estrutural refere-se a uma condição constitutiva de todo sujeito e de todo discurso, posto que eles se organizam a partir do significante-mestre (S1) e dos modos de gozo. No que tange aos efeitos de segregação foi possível observar que há uma diferença crucial do que expõem a teoria freudiana e a teoria lacaniana. Freud apresenta, a partir da análise de sua época, que as massas se alicerçavam sobre um processo de identificação comum a um determinado ideal. O que Lacan observa, entretanto, e que nos serve para um estudo da contemporaneidade, é um declínio desses ideais e o crescimento do gozo como ordenação social. Tal fenômeno ocorre por intermédio de um tipo de relação específica entre o discurso da ciência, que forjou a constituição de um sujeito universal e o discurso do capitalismo, que tem como consequência a globalização de um Mercado Comum. Essa combinação tem como resíduo a dessubjetivação dos sujeitos, que passam a se organizar por meio de campos de concentração de gozo, onde todos visam gozar de forma semelhante e ilimitada. Organiza-se, dessa forma, toda uma sociedade a caminho da segregação, onde aquele que goza diferente é segregado. Por fim, argumenta-se que o discurso do analista oferece uma saída diferente ao impasse da segregação, uma vez que se interessa pelas soluções singulares que cada sujeito constrói para dar conta daquilo que é insuportável.
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