CUIDADO, ENVELHECIMENTO E RACIALIZAÇÃO: REFLEXÕES DE UM GRUPO DE MULHERES NO CRAS
Palavras-chave:
Processo Grupal, Gênero, Trabalho de cuidado, Envelhecimento, Raça/EtniaResumo
A atribuição dos trabalhos de cuidado às mulheres é aspecto notório das sociedades industrializadas, de modo que, mesmo que elas passem a ocupar espaços públicos, ampliam-se as responsabilidades, principalmente no que se refere aos encargos domésticos. Desse modo, torna-se relevante identificar como o exercício de cuidado aparece nas experiências compartilhadas pelas participantes de um grupo de mulheres de um CRAS, buscando analisar como esta prática grupal se constitui enquanto possibilidade de elaboração e transformação acerca do exercício do cuidado. Os dados produzidos na pesquisa foram submetidos à análise por núcleos de significação em que se observou a evidência e frequência da temática do trabalho de cuidado nos debates dos encontros grupais. Diante disso, foi possível se ater aos desdobramentos desse tema trazidos pelas participantes. Evidencia-se que a supervisão do lar e o cuidado com os familiares estão ligados aos papéis sociais atribuídos às mulheres. Além disso, o tema do trabalho de cuidado se encontra permeado pelos desafios do processo de envelhecimento experienciado por mulheres, denunciando uma escassez nas iniciativas e serviços que visam amparar mulheres no cuidado com seu próprio envelhecer e de outros membros da família. É notório ainda que as articulações das opressões de raça e gênero, além das questões de classe social, ocasionam que mulheres negras e pobres tenham condições de trabalho ainda mais precarizadas. Por fim, compreende-se que o desenvolvimento de práticas grupais apresenta potencialidades no que se refere à mobilização de discussões, a construção de um pensamento crítico acerca da realidade vivida e a abertura para a possibilidade de transformações sociais.
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