Minha casa é onde estou:

escrevivência, identidade e decolonialidade em Igiaba Scego

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5752/P.2358-3428.2023v27n61p80-110

Palavras-chave:

Igiaba Scego, Escrevivência, Identidade, Decolonialidade

Resumo

O presente trabalho propõe uma análise do romance Minha casa é onde estou (2018), da escritora italiana de ascendência somali Igiaba Scego, a partir do conceito de escrevivência, engendrado pela escritora brasileira Conceição Evaristo (2020). A reflexão preconiza a escrevivência enquanto ato político, podendo ser uma forma de reconhecimento de ancestralidades e de resgate de identidades coletivas, outrora assimiladas em contextos de relações coloniais. A escrevivência é um ato de revelar histórias apagadas e que precisam ser disseminadas para que a colonialidade do poder, o fascismo e outras formas de extremismo não continuem em evidência. Provindo da escrevivência, o artigo pretende estabeler um diálogo desse conceito com Merleau-Ponty (1999) e sua concepção de corporeidade como forma de perceber e significar o mundo; com Zygmunt Bauman (2005) e sua compreensão da identidade que se constrói no tempo e no espaço e com Aníbal Quijano (2005) que reflete sobre a colonialidade do poder como uma dimensão constrututiva do sistema mundial moderno que se difundiu com a expansão colonial europeia e se manifesta sob a forma uma hierarquia com base na raça e no gênero e pela imposição de uma lógica eurocêntrica como padrão universal de conhecimento. O pensamento decolonial surge aqui como uma forma de quebrar padrões historicamente impostos e revelar histórias que foram apagadas pela imposição pensamento colonial. A metodologia de trabalho é a análise teórica de pesquisa bibliográfica. Dessa forma, em decorrência dessas discussões, pode-se inferir que a escrevivência é um caminho fundamental para o avanço da decolonialidade.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Daniela Araújo Virgens, UNEB

Mestranda em Estudo de Linguagens pela UNEB. Mestre e Doutora em Geografia pela UFBA.

Adriana de Borges Gomes, UNEB

Professora do Curso de Letras Língua Espanhola e Literaturas UNEB/DCH-I/ Credenciada no Programa de Pós-graduação em Estudo de Linguagens (PPGEL/UNEB). Doutora em Teoria da Literatura e da Cultura pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB).

Referências

BAUMAN, Zygmunt. Estranhos à nossa porta. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2017.

BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.

BAUMAN, Zygmunt. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.

BAUTISTA S. Juan Jose.¿Qué significa pensar «desde» América Latina? Hacia una racionalidad transmoderna y postoccidental. Caracas, Venezuela: Monte Ávila Editores Latinoamericana C.A., 2014.

BONNICI, Thomas. Introdução ao estudo das literaturas pós-coloniais. Mimesis, Bauru, v. 19, n. 1, p. 07-23, 1998. Disponível em <https://edisciplinas.usp.br/mod/resource/view.php?id=1549434>. Acesso em 15 mar. 2023.

DUSSEL, Enrique. Filosofia de la liberación. Bogotá: Editorial Nueva America, 1996.

EVARISTO, Conceição. A escrevivência e seus subtextos. In: DUARTE, Constância Lima; NUNES, Isabella Rosado (org.). Escrevivência: a escrita de nós: reflexões sobre a obra de Conceição Evaristo. Rio de Janeiro: Mina Comunicação e Arte, 2020. p. 26-47.

EVARISTO, Conceição. Escritora Conceição Evaristo é convidada do Estação Plural: depoimento [jun. 2017]. Entrevistadores: Ellen Oléria, Fernando Oliveira e Mel Gonçalves. TVBRASIL, 2017. YouTube. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=Xn2gj1hGsoo>. Acesso em out. 2022.

FAEDRICH, Anna. O conceito de autoficção: demarcações a partir da literatura brasileira contemporânea. Itinerários, Araraquara, n. 40, p. 45-60, jan./jun. 2015. Disponível em <https://periodicos.fclar.unesp.br/itinerarios/article/view/8165>. Acesso em nov. 2022.

FIGUEIREDO, Eurídice. Representações de etnicidade: perspectivas interamericanas de literatura e cultura. Rio de Janeiro: 7Letras, 2010.

GENETTE, Gerard. Discurso da narrativa: ensaio de método. Lisboa: Arcádia, 1979.

HALL, Stuart. Cultura e representação. Rio de Janeiro: Editora PUC-Rio; Apicuri, 2016.

LORENZETTI, Sara. La mia casa è dove sono: la recherche di Igiaba Scego. In: ACKERMANN, Kathrin; WINTER, Susanne. Spazio domestico e spazio quotidiano nella letteratura e nel cinema dall’ottocento a oggi. Firenze: Franco Cesati Editore, 2014. p. 127-138.

MARANDOLA JÚNIOR, Eduardo; DAL GALLO, Priscila Marchiori. Ser migrante: implicações territoriais e existenciais da migração. Revista Brasileira de Estudos de População, Rio de Janeiro, v. 27, n. 2, p. 407-424, jul./dez. 2010. Disponível em <https://rebep.org.br/revista/article/view/108/pdf_102>. Acesso em: out. 2022.

MERLEAU-PONTY, Maurice. Conversas - 1948. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, Eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, Eduardo (org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, 2005. p. 107-130.

ROMEO, Caterina. Literatura da migração e literatura pós-colonial italiana 1990-2013: uma leitura crítica. In: GONÇALVES, Ana Beatriz; ALMEIDA, Márcia de; FARIA, Alexandre. Novas cartografias: desafios literários. Juiz de Fora, MG: Editora UFJF, 2017. p. 11-37

SAID, Edward W. Fora do lugar: memórias. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. Ebook.

SAID, Edward. Reflexões sobre o exílio e outros ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. Ebook.

SCEGO, Igiaba. Minha casa é onde estou. São Paulo: Editora Nós, 2018.

SEEMANN, Jörn. Tradições humanistas na cartografia poética dos mapas. In: MARANDOLA JÚNIOR, Eduardo; HOLZER, Werther; OLIVEIRA, Lívia de (org.). Qual o espaço do lugar?: geografia, epistemologia, fenomenologia. São Paulo: Perspectiva, 2014. p. 69-92.

SILVA, Teresa. Fenómeno migratório: um olhar sobre a transversalidade. Lisboa: Edições Colibri, 2018.

VAZ, Caroline Bulhões Nunes. Representações cartográficas enquanto manifestações do geográfico: interseções entre ser geógrafo e fazer geografia. In: SERPA, Angelo (org.). Representação e Geografia. Salvador: EDUFBA, 2021. p. 117-136.

YOUNG, Iris Marion. Representação política, identidade e minorias. Lua Nova: Revista de Cultura e Política, São Paulo, n. 67, p. 139-190, 2006. Disponível em <https://www.researchgate.net/publication/240972225_Representacao_politica_identidade_e_minorias>. Acesso em dez. 2022.

Downloads

Publicado

31-01-2024

Como Citar

VIRGENS, Daniela Araújo; GOMES, Adriana de Borges. Minha casa é onde estou:: escrevivência, identidade e decolonialidade em Igiaba Scego. Scripta, [S. l.], v. 27, n. 61, p. 80–110, 2024. DOI: 10.5752/P.2358-3428.2023v27n61p80-110. Disponível em: https://periodicos.pucminas.br/scripta/article/view/30495. Acesso em: 22 mar. 2025.