Notas para uma análise da relação entre corpo e autoria no campo quadrinístico
DOI:
https://doi.org/10.5752/P.2358-3428.2023v27n61p390-415Palavras-chave:
Quadrinhos, Autorialidade, Corporeidade, Laerte Coutinho, TransgeneridadeResumo
O fenômeno da autoria nos mais diversos campos de produção intelectual, artística ou cultural é assunto recorrente nas teorizações dos estudos do discurso. Embora haja vasta bibliografia sobre autorialidade no campo literário, ainda é escassa essa reflexão no campo das histórias em quadrinhos. Estudos recentes sobre a autoria nos quadrinhos sugerem que a autoria é um fenômeno discursivo construído coletivamente por agentes no campo quadrinístico, por meio de práticas e materialidades características desse campo, a fim de fomentar a notoriedade de um nome de autor. Nos últimos anos, a quadrinista Laerte Coutinho, ao fazer sua mudança de gênero, sem alterar seu nome autoral, tem se mostrado um desafio para as reflexões sobre autorialidade centradas apenas no nome de autor, sem considerar o papel que a corporeidade tem na construção do fenômeno da autoria. Assim, retomando essa problemática foucaultiana, o objetivo deste trabalho é tecer apontamentos sobre a relação entre corporeidade e autorialidade na carreira de Laerte no campo quadrinístico. Este trabalho busca formular a hipótese de que, na atualidade, com a proeminência das mídias digitais, a participação do autor e de agentes periféricos no campo quadrinístico é fundamental para a construção da importância de um nome autoral nesse campo. E, por isso, a presença física, corporal e performática do autor se impõe, podendo alterar a forma de recepção de sua obra. Na esteira de Foucault (2009), este trabalho busca indagar qual o papel que o corpo exerce na autorialidade. Esta problemática traz os estudos foucaultianos da autoria, questões de gênero e transgeneridade, corporeidade, mídias digitais e midiatização, teoria dos campos, em especial, o campo discursivo quadrinístico.
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