Hermenêutica, decolonialidade e justiça:
A ética de Xangô como alternativa ao construtivismo rawlsiano
DOI:
https://doi.org/10.5752/P.1678-3425.2024v9n16p117-131Palavras-chave:
Construtivismo ralwsiano, Ética de Xangô, Hermenêutica Gadameriana, JustiçaResumo
Este trabalho busca articular as contribuições da hermenêutica filosófica gadameriana com as intervenções do giro decolonial latino americano, tendo em vista a superação da condição de subalternidade do povo preto na dinâmica social, política e jurídica brasileira. A partir da confrontação dialógica entre os referenciais supra, realiza-se uma testagem crítica do impacto da teoria da justiça de John Rawls na sociedade brasileira atual, considerando-se a teoria em questão uma síntese da estrutura de racionalidade moderno-colonial. Com a hermenêutica filosófica gadameriana, investiga-se o impacto, na práxis política e jurídica, da hermenêutica como um processo de compreensão-interpretação-aplicação de um texto. Constata-se, com o pensamento decolonial, a emergência de possibilidades alternativas de compreensão-interpretação-aplicação do conjunto de problemas jurídicos, filosóficos e sociais da hipercomplexidade, então emancipados da matriz moderno-colonial. Conjugando as implicações de ambas as rupturas, considera-se que as estruturas elementares da teoria rawlsiana são inapropriadas para a compreensão e para a realização da justiça na sociedade brasileira vez que, contrapostas à ética de Xangô, indicam um déficit analítico frente à hipercomplexidade da sociedade brasileira contemporânea, posto que os saberes e poderes xangonianos reiteram um horizonte hermenêutico mais abrangente, transmoderno antes de moderno, pluriversal antes de universal, receptivo a subjetividades, racionalidades e saberes outros, sobretudo as cosmopercepções do povo preto.
Downloads
Referências
ASANTE, Molefi kete. Afrocentridade: notas sobre uma posição disciplinar. In: NASCIMENTO, Elisa Larkin. Afrocentridade: uma abordagem epistemológica inovadora. São Paulo: Selo negro, 2009
BALLESTRIN, Luciana. América Latina e o giro decolonial. Revista brasileira de ciência política, p. 89-117, 2013.
BENJAMIN, Walter. Para uma crítica da violência (1921). In: BENJAMIN, Walter. Escritos sobre mito e linguagem. Trad. Ernani Chaves. São Paulo: 34, p. 121-156, 2013.
BOAS, Francisco José Vilas. O construtivismo kantiano na teoria da justiça de John Rawls. Dissertação (Mestrado em Filosofia) - Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, Departamento de Filosofia. Belo Horizonte, 2012.
CESAIRE, Aimé. Discurso sobre a negritude. Trad. Ana Maria Gini Madeira. Belo Horizonte: Nandyala, 2010.
DUSSEL, Enrique. Filosofia na América Latina: filosofia da libertação. São Paulo: Loyola, 1977.
DUSSEL, Enrique. Transmodernidade e interculturalidade: interpretação a partir da filosofia da libertação. Sociedade e Estado, v. 31, n. 1, p. 51-73, 2016.
DUSSEL, Enrique. Siete ensayos de filosofía de la liberación: hacia una fundamentación del giro decolonial. Madrid: Editorial Trotta, 2020
FANON, Frantz. Os condenados da terra. Trad. José Laurêncio de Melo. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1968.
FOUCAULT, Michel. Ditos e escritos IV: estratégia poder-saber. Trad. Vera Lucia Avellar Ribeiro. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006.
GADAMER, H. G. Verdade e método I. Petrópolis: Vozes, 1997.
GOMES, David FL; CARVALHO, Rayann K. Poderá o direito ser decolonial?. Revista Direito e Práxis, v. 12, p. 77-101, 2021.
LOBO, Line Costa. Rawls: uma concepção política de justiça. Dissertação (Mestrado em Filosofia) - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia. SALVADOR, 2015.
MALDONADO-TORRES, Nelson. Transdisciplinaridade e decolonialidade. Sociedade e estado, v. 31, p. 75-97, 2016.
MBEMBE, Achile. As formas africanas de auto inscrição. Estudos Afro-Asiáticos, vol. 23, p. 171-209, 2001.
MIGNOLO, Walter D. A geopolítica do conhecimento e a diferença colonial. Revista lusófona de educação, v. 48, n. 48, 2020.
MIGNOLO, Walter. Desobediência epistêmica: a opção descolonial e o significado de identidade em política. Cadernos de Letras da UFF, v. 34, n. 1, p. 287-324, 2008.
MIGNOLO, Walter. Histórias locais/projetos globais: colonialidade, pensamento liminar e saberes subalternos. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2003.
NASCIMENTO, Gabriel. Racismo Linguístico: os subterrâneos da linguagem e do racismo. – Belo Horizonte: Letramento, 2019.
RABAKA, Reiland. Teoria Crítica Africana. In: NASCIMENTO, Elisa Larkin. Afrocentridade: uma abordagem epistemológica inovadora. São Paulo: Selo negro, 2009
RAWLS, John. Uma teoria da justiça. Trad. Almiro Pisetta e Lenita M. R. Esteves. - São Paulo: Martins Fontes, 1997.
RIBEIRO, Ronilda Iyakemi. Alma africana no Brasil: os yorubas. São Paulo: Editora Oduduwa, 1996.
ROHDEN, Luiz. O "círculo hermenêutico" como estrutura, O "enquanto" da hermenêutica filosófica. Veritas (Porto Alegre), v. 44, n. 1, p. 109-131, 1999.
SANTOS, Boaventura de Souza. Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia dos saberes. In: SANTOS, Boaventura de Souza; MENESES, Maria Paula (orgs). Epistemologias do Sul. Coimbra: Edições Almedina S.A., 2009.
SÃO BERNADO, Augusto S. dos Santos de. Xangô e Thémis. Salvador: Andrade, 2016.
SEGATO, Rita Laura. Raça é signo. Raça é signo. In: Série Antropologia. Brasília, n. 373, 2005.
SIMAS, Luiz Antonio. O corpo encantado das ruas. 9 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2021.
STRECK, Lenio Luiz. Verdade e consenso: constituição, hermenêutica e teorias discursivas. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
TAVARES, Ildásio. Xangô. 2 ed. Rio de Janeiro: Pallas, 2002.