Pequena história crítica dos viadutos na cidade brasileira

Abstract

Trata-se de discutir o que mudou e o que se repete na história
da produção e da apropriação dos viadutos nas cidades brasileiras.
Como objeto de estudo, tomam-se os viadutos sobre a Via
Expressa Leste-Oeste, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Aberta
em 1978, mediante uma operação de desfavelamento que envolveu
a retirada de mais de 10 mil pessoas, essa via é recortada por
uma trama de viadutos e passarelas que voltam a ser ocupados
pela população de rua já no final da década de 1980. No início do
século XXI, essa população é retirada dali pela Prefeitura Municipal
de Belo Horizonte, os vãos sob os viadutos são aterrados,
e placas com os dizeres “Área Pública: não ocupe” e “Denuncie
ocupações irregulares” são instaladas em suas imediações. Uma
história que retrata o paradoxo acusado por Flávio Villaça na trajetória
do planejamento urbano do Brasil, que, desde a década de
1930, insere-se não mais na esfera política, mas na esfera da ideologia.
Da cidade feia, mas passível de embelezamento, passa-se
à cidade caótica eficiente; restou apenas uma cidade em que a
pobreza não deve ser, em absoluto, visível.