NÃO BASTA MATAR O CORPO, TEM QUE MANCHAR A ALMA:

DUAS TRAGÉDIAS EM DOIS ATOS

Autores/as

  • Luciano da Silva Façanha
  • Angela Bárbara Lima Saldanha Rêgo

DOI:

https://doi.org/10.5752/P.2177-6342.2023v1nesp1p233-250

Palabras clave:

Rousseau, estupro, feminicídio, moralidade, representação

Resumen

Neste artigo pretende-se investigar de que maneira a moralidade feminina é representada na tragédia inacabada do filósofo Jean-Jacques Rousseau, A morte de Lucrécia, em cotejo com a também tragédia, infelizmente, real e acabada, do estupro seguido de feminicídio da publicitária Mariana Costa, na capital maranhense, em 2016. Aliando revisão crítica da peça teatral de 1754 à análise dos discursos veiculados na sessão pública do júri popular de 2021, busca-se, no primeiro ato, situar a figura da mulher na sociedade, com especial ênfase aos papéis de gênero por ela desempenhados, descrevendo-se, paripassu, as situações de violência sofridas pelas protagonistas das respectivas tragédias, expondo o que as aproxima e as distancia, não obstante os séculos que separam suas existências. No segundo ato, analisa-se o discurso empregado nas representações - peça teatral e tribunal do júri, reconhecendo-se que elas giram em torno da exposição e do questionamento sobre a moralidade das vítimas, enquanto suas vozes restam ensurdecedoramente silenciadas para sempre.

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Biografía del autor/a

Luciano da Silva Façanha

Professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Maranhão. E-mail: luciano.facanha@ufma.br

 

Angela Bárbara Lima Saldanha Rêgo

Mestra em Cultura e Sociedade pelo PGCult/UFMA. Procuradora Federal do Instituto Federal do Maranhão (IFMA). E-mail: angela.saldanha@discente.ufma.br

Citas

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Publicado

2023-11-25

Cómo citar

Façanha, L. da S. ., & Rêgo, A. B. . L. S. . (2023). NÃO BASTA MATAR O CORPO, TEM QUE MANCHAR A ALMA: : DUAS TRAGÉDIAS EM DOIS ATOS . Sapere Aude, 1(1), 233–250. https://doi.org/10.5752/P.2177-6342.2023v1nesp1p233-250

Número

Sección

ARTIGOS/ARTICLES: DOSSIÊ/DOSSIER

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