NÃO BASTA MATAR O CORPO, TEM QUE MANCHAR A ALMA:
DUAS TRAGÉDIAS EM DOIS ATOS
DOI:
https://doi.org/10.5752/P.2177-6342.2023v1nesp1p233-250Parole chiave:
Rousseau, estupro, feminicídio, moralidade, representaçãoAbstract
Neste artigo pretende-se investigar de que maneira a moralidade feminina é representada na tragédia inacabada do filósofo Jean-Jacques Rousseau, A morte de Lucrécia, em cotejo com a também tragédia, infelizmente, real e acabada, do estupro seguido de feminicídio da publicitária Mariana Costa, na capital maranhense, em 2016. Aliando revisão crítica da peça teatral de 1754 à análise dos discursos veiculados na sessão pública do júri popular de 2021, busca-se, no primeiro ato, situar a figura da mulher na sociedade, com especial ênfase aos papéis de gênero por ela desempenhados, descrevendo-se, paripassu, as situações de violência sofridas pelas protagonistas das respectivas tragédias, expondo o que as aproxima e as distancia, não obstante os séculos que separam suas existências. No segundo ato, analisa-se o discurso empregado nas representações - peça teatral e tribunal do júri, reconhecendo-se que elas giram em torno da exposição e do questionamento sobre a moralidade das vítimas, enquanto suas vozes restam ensurdecedoramente silenciadas para sempre.
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