Circulação de um enunciado na mídia: religião e acontecimento
DOI:
https://doi.org/10.5752/P.2358-3428.2018v22n45p25-36Palavras-chave:
Discurso religioso. Religiões de matriz africana. Acontecimento discursive. Aforização.Resumo
Neste artigo, analisamos o enunciado “Umbanda e Candomblé não são religiões”, que faz parte da sentença emitida pelo Juiz Eugenio Rosa de Araújo, titular da 17ª Vara Federal do Rio de Janeiro, em 28 de abril de 2014, e foi retomado em algumas notícias da mídia escrita brasileira. Na análise, verificamos de que forma a emergência da referida frase na mídia funciona como um acontecimento discursivo, tal como definido por Pêcheux (2006); e como o referido acontecimento vai se (re)inscrevendo na memória dos coenunciadores por meio de estratégias textuais, como as ilhas ou ilhotas textuais (AUTHIER-REVUZ, 1998 e 2004; e MAINGUENEAU, 2002) e as aforizações (MAINGUENEAU, 2014). Os resultados mostraram que as diferentes maneiras de a mídia referir a sentença do juiz se constituem como um acontecimento discursivo, pois, a partir da aforização destacada da referida sentença, surgem outras possibilidades de uma “desestruturação-reestruturação das redes e trajetos de interpretação” (PÊCHEUX, 2006, p. 56).
Downloads
Referências
ADÉKÒYÁ, Olùmúyiwá Anthony A. Yorùbá: tradição oral e história. São Paulo: Terceira Margem, 1999.
ATO criticará juiz que disse que umbanda e candomblé não são religiões. O Globo, 20 maio 2014. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/sociedade>. Acesso em: 17 jun. 2015.
AUTHIER-REVUZ, Jacqueline. Observações sobre a categoria da “ilhota textual”. In: AUTHIER-REVUZ, Jaqueline. Entre a transparência e a opacidade: um estudo enunciativo do sentido. Apresentação de Marlene Teixeira; revisão técnica da tradução: Leci Borges Barbisan e Valdir do Nascimento Flores. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004.
AUTHIER-REVUZ, Jacqueline. Palavras incertas: as não coincidências do dizer. Campinas: Editora da UNICAMP, 1998. Coleção Repertórios.
CARNEIRO, Edson. Candomblés da Bahia. São Paulo: Editora WMF/Martins Fontes, 2008.
DUCROT, Oswald. Esboço de uma teoria polifônica da enunciação. Tradução de Eduardo Guimarães. In: DUCROT, Oswald. O dizer e o dito. Campinas: Pontes, 1987. p. 161-219.
EM decisão, juiz diz que umbanda e candomblé não são religiões. Jornal Opção, 18 maio 2014. Disponível em: <http://www.jornalopcao.com.br/ultimas-noticias>. Acesso em: 18 jun. 2015.
FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. 6. ed. Tradução de Luiz Felipe Baeta Neves. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2002.
GRUZINSKI, Serge. O pensamento mestiço. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
JUIZ diz que umbanda e candomblé não são religiões. O Estado de S. Paulo, 16 maio 2014. Disponível em: <http://brasil.estadao.com.br/noticias/geral>. Acesso em: 17 jun. 2015.
JUSTIÇA Federal define que cultos afro-brasileiros, como a umbanda e candomblé, não são religiões. Gospel Mais, 15 maio 2014. Disponível em: <http://noticias.gospelmais.com.br>. Acesso em: 17
jun. 2015.
LIMA, Vivaldo da Costa. A família de santo nos candomblés jejes-nagôs da Bahia: um estudo de relações intragrupais. Salvador: Corrupio, 2003.
MAINGUENEAU, Dominique. Aforização: enunciados sem texto?. Tradução de Ana Raquel Motta. In MAINGUENEAU, Dominique; SOUZA-E-SILVA, Maria Cecília Perez de; POSSENTI, Sírio (Org.). Doze conceitos em Análise do Discurso. São Paulo: Parábola Editorial, 2010. p. 9-24.
MAINGUENEAU, Dominique. Análise de textos de comunicação. 3. ed. Tradução de Maria Cecília Perez de Souza-e-Silva e Décio Rocha. São Paulo: Cortez, 2002.
MAINGUENEAU, Dominique. Frases sem texto. Tradução de Sírio Possenti et al. São Paulo: Parábola Editorial, 2014.
OAB critica decisão de juiz que disse que umbanda e candomblé não são religiões. Notícias Jusbrasil, 22 maio 2014. Disponível em: <http://nelcisgomes.jusbrasil.com.br/noticias>. Acesso em: 17 jun.
“PARA os desavisados, isso pode fundamentar ações malucas”, diz sacerdote candomblecista. O Globo, 17 junho 2014. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/sociedade/religiao>. Acesso em:
jun. 2015
PÊCHEUX, Michel. O discurso: estrutura ou acontecimento. 4. ed. Tradução de Eni P. Orlandi. Campinas: Pontes, 2006.
PÊCHEUX, Michel. Papel da memória. In: PÊCHEUX, Michel et al. Papel da memória. 2. ed. Tradução e introdução de José Horta Nunes. Campinas: Pontes, 2007. p. 49-57.
PÊCHEUX, Michel. (1975). Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Tradução de Eni P. Orlandi et al. Campinas: Editora da UNICAMP, 1988.
PRANDI, Reginaldo. O Brasil com axé: candomblé e umbanda no mercado religioso. Estudos Avançados: dossiê religiões no Brasil, São Paulo, v. 18, n. 52, set./dez. 2004.
RIO DE JANEIRO. 17a Vara Federal. Sentença do Juiz Eugênio Rosa de Araújo. Rio de Janeiro, 28/04/2014. Disponível em: <http://www.ebc.com.br/sites/default/files/religiao_desicao_justica_
federal_0.pdf>. Acesso em: 17 jun. 2015.
UMBANDA e candomblé não são religiões, diz juiz federal. Folha de S. Paulo, 16 maio 2014. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder>. Acesso em: 18 jun. 2015
VERGER, Pierre Fatumbi. Orixás deuses iorubás na África e no Novo Mundo. Salvador: Corrupio, 2002.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
O envio de qualquer colaboração implica, automaticamente, a cessão integral dos direitos autorais à PUC Minas. Solicita-se aos autores assegurarem:
- a inexistência de conflito de interesses (relações entre autores, empresas/instituições ou indivíduos com interesse no tema abordado pelo artigo), e
- órgãos ou instituições financiadoras da pesquisa que deu origem ao artigo.
- todos os trabalhos submetidos estarão automaticamente inscritos sob uma licença creative commons do tipo "by-nc-nd/4.0".