A historicidade dos sentidos na fala da Secretária Estadual de Educação e o funcionamento da memória discursiva
DOI:
https://doi.org/10.5752/P.2358-3428.2024v28n63p126-155Palavras-chave:
Memória, Discurso, Sujeito, EducaçãoResumo
Neste artigo procuramos revisitar, na perspectiva teórico-metodológica da Análise Materialista do Discurso, enunciados proferidos pela Secretária Estadual de Educação do Rio Grande do Sul na live “Orientações sobre o encerramento do ano letivo 2022”, compreender a realização do discurso desde sua filiação a redes de memória bem como o funcionamento da memória discursiva a partir do recorte de duas sequências discursivas (SD), identificando a Formação Discursiva (FD) em que as SD estão inscritas e por quais outras FD são atravessadas. Entendemos que o sujeito se constitui pela memória e pelo esquecimento, inscrevendo-se em certa filiação de sentidos, e a memória é reconstruída na enunciação, retornando nos sentidos produzidos pelos sintagmas “educação integral” e “coisa” em determinadas condições de produção. Destacamos, desde o trabalho analítico-discursivo realizado, que a Secretária, assujeitada ideologicamente, está determinada pela Formação Discursiva Pedagógico-Administrativa e parece ter assimilado diretrizes de organização da educação coerentes com o modo de produção capitalista neoliberal. Contudo, a FDPA está em relação com outras FD, reverberando o que foi dito antes, incorporando, mas também mudando o seu sentido uma vez que a memória tanto permite repetição quanto deslocamento de sentidos. Raquel, ao afirmar algo, provavelmente deixa de dizer algo e sentidos são silenciados – o que aponta para uma disputa pelos sentidos acerca da Educação entre um modo que compreende a escola como sendo a de tempo livre para aprender e outro modo que vê na escola a instância de treinamento do estudante para inseri-lo de maneira adaptada às exigências do trabalho.
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