A escrita interessada de Maria Valéria Rezende: sobre vozes que contam histórias
DOI :
https://doi.org/10.5752/P.2358-3428.2022v26n58p254-281Mots-clés :
Escrita literária, Vozes, Contador de históriasRésumé
Partindo dos estudos de Oliveira (2013) sobre a noção de verdade e a pesquisa em Linguística Aplicada, propomos uma reflexão acerca da escrita literária como resultado de um compromisso ético com determinado eixo axiológico, assumindo-se como uma escrita interessada, a partir da leitura dos romances contemporâneos Ouro dentro da cabeça (2016a), Outros cantos (2016b) e Quarenta dias (2014), de Maria Valéria Rezende. Nesses romances, o caráter heterodiscursivo da linguagem (BAKHTIN, 2015) dialoga com a renovação técnica da língua e a refuncionalização da arte (BENJAMIN, 1994), evidenciando uma literatura marcada pelos movimentos de representação e refração do discurso do outro. Assumindo o caráter político de uma obra que tem seu foco deslocado para os elementos periféricos da sociedade, Rezende retoma a figura do contador de histórias populares como elemento que representa a cultura do pobre marginalizado, subvertendo as fronteiras do texto escrito ao usar um elemento tradicional da cultura popular oral como recurso discursivo. Por meio da linguagem, percebemos que muitas vozes marginalizadas reivindicam o direito de contar as histórias, em uma ação definida por Conceição Evaristo (2009) como escrevivência. Propomos neste trabalho problematizar, teoricamente, a figura do narrador romanesco contador de histórias, tendo em vista as relações de representação do desvalido nos romances de Rezende.
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