TEOLOGIA NEGRA E CRISTIANISMO DECOLONIAL

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Cleusa Caldeira

Resumo

Desde o século XV, o racismo anti-negro segue se projetando violentamente sobre o corpo negro. Razão pela qual, a questão do perdão, do ressentimento, da reconciliação são pontos nevrálgicos para o pensamento negro. Em geral a razão branca e eurocentrada fala do perdão e da reconciliação em termos de ajustamento, sem levar em consideração o colonialismo como principal fratura histórica na intersubjetividade que expulsou o negro da relação dialética em vista da dominação política-econômica. Entretanto, sabemos que o advento da nova humanidade, isto é, o estágio harmonioso do mútuo reconhecimento, não pode chegar se não por meio da superação do ódio, do ressentimento e do perdão. Um engano, contudo, é pensar que esse estágio pode advir sem a justiça para as vítimas e o arrependimento dos verdugos, que para o negro implica a desalienação, a modo fanoniano, que restaure às condições em que o amor possa emergir. Neste horizonte, nos propomos a seguir pensando o perdão, não nos moldes dogmáticos e intimista, mas como um estágio da subjetividade radicalmente aberta a outrem e na gratuidade, para além da dialética, a saber: per-dón. Pretende-se, pois, seguir pensando na ontologia relacional como única saída possível para a nossa comum humanização.

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Como Citar
CALDEIRA, Cleusa. TEOLOGIA NEGRA E CRISTIANISMO DECOLONIAL. INTERAÇÕES, Belo Horizonte, v. 17, n. 1, p. 15–33, 2022. DOI: 10.5752/P.1983-2478.2022v17n1p15-33. Disponível em: https://periodicos.pucminas.br/interacoes/article/view/26471. Acesso em: 21 ago. 2025.
Seção
ARTIGOS
Biografia do Autor

Cleusa Caldeira, PONTÍFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ -PUCPR

Doutora em Teologia. Pós-doutoranda em Teologia pela PUC-PR. Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7202-0682. E-mail: cleucaldeira@gmail.com.          

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