Prática de correção textual e formação de escreventes: viés dialógico

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5752/P.2358-3428.2019v23n48p137-147

Palavras-chave:

Linguística Aplicada, Educação, Análise Dialógica do Discurso

Resumo

Sendo o dialogismo processo inerente à linguagem, seria paradoxal considerar uma produção de texto – réplica dialógica escrita – como monológica, com ausência dialógica ou, mesmo, como incorreta. Na escola, porém, algumas correções de texto são realizadas segundo esse paradoxo. A avaliação escolar desconsidera o princípio da dialogia, ao aplicar critérios de correção que distinguem a boa réplica da má, caso este em que o texto é considerado inadequado. Buscamos discutir alguns desses critérios, de modo a observar sua aplicabilidade em uma perspectiva do dialogismo. Como objetivo, elegemos analisar um texto pelo viés de seu dialogismo constitutivo e propor uma perspectiva dialógica para a avaliação de texto, de modo a operar na formação do aluno-escrevente e do professor. A concepção de “erro” é relativa: pode traduzir a não aprendizagem de algum tópico pelo aluno; e pode, ainda, ser indício da necessidade de reflexão sobre a prática pedagógica, sendo, neste segundo caso, uma oportunidade de formação docente. Propomos, a partir de exemplificação, um olhar dialógico e inclusivo para os textos dos alunos, trabalhando aspectos constitutivos de suas próprias produções. Consideramos que tanto a produção quanto a avaliação da produção são atos responsivos dialógicos que afetam, na relação de alteridade, a constituição dos sujeitos que lidam com a escrita e podem, assim, ensinar e aprender mutuamente.

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Biografia do Autor

Norma Seltzer Goldstein, Universidade de São Paulo

Bacharelado em Letras - Português e Francês, Mestrado e Doutorado em Teoria da Literatura e Literatura Comparada. Atualmente é professora sênior do Programa de Pós-Graduação em Filologia e Língua Portuguesa da Universidade de São Paulo. Desenvolve e orienta pesquisas na área de Lingüística Aplicada. Atua, ainda, no projeto PROFLETRAS- USP, em rede nacional.

Viviane Dinês de Oliveira Ribeiro Bartho, Universidade de São Paulo e Instituto Federal de São Paulo

Graduada em Letras pela Universidade de Taubaté (2008); especialista em Leitura e Produção de gêneros discursivos (2010) e mestra em Linguística Aplicada (2013) por essa mesma instituição. Trabalhou como professora em instituições públicas e particulares de Ensino Fundamental, Médio e Superior. Atualmente, leciona para alunos da Educação Básica, Técnica e Superior no IFSP, campus de Campos do Jordão. Participa de grupos de pesquisa, tais como (CNPq-UNITAU) Subjetividades e Identificações: efeitos de (d)enunciação, coordenado pela Profa. Dra. Juliana Santana Cavallari, e participa de congressos e de outros eventos acadêmicos, nos quais apresenta trabalhos na área de Análise do Discurso de perspectiva francesa e em áreas que com ela dialogam, como a Psicanálise. A produção mais notória academicamente é a dissertação de mestrado intitulada Do amor do Outro ao novo amor: efeitos da escrita de diários pessoais de adolescentes em situação do acolhimento (2013), produzida a partir de atividades de leitura e escrita com adolescentes de uma instituição pública que acolhe jovens vítimas de abandono e/ou maus-tratos.

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Publicado

11-09-2019

Como Citar

GOLDSTEIN, Norma Seltzer; BARTHO, Viviane Dinês de Oliveira Ribeiro. Prática de correção textual e formação de escreventes: viés dialógico. Scripta, Belo Horizonte, v. 23, n. 48, p. 137–147, 2019. DOI: 10.5752/P.2358-3428.2019v23n48p137-147. Disponível em: https://periodicos.pucminas.br/scripta/article/view/19682. Acesso em: 22 abr. 2025.