A semântica da sacralização: usos do tempo no discurso do presidente Médici
Conteúdo do artigo principal
Resumo
O objetivo do artigo é analisar a mimese entre a autoridade do governo instaurado em 1964 e os esquemas da religião civil por meio de um discurso do presidente Garrastazu Médici Para isso, averígua-se as interpretações dadas aos fatos do golpe civil-militar e como o pronunciamento comemorativo, seis anos depois, operou com os registros da memória, com o testemunho pessoal e com categorias históricas para disseminar suas verdades acerca da nação. Isso foi feito em três tópicos. O primeiro, explora os princípios da cronopolítica, que estuda as revisões feitas no passado a partir do futuro intencionalmente projetado. No segundo, identificam-se elementos litúrgicos na fala presidencial e as bases da hermenêutica temporal posta em prática. Em terceiro lugar, aponta-se como o Estado ditatorial buscou incorporar o poder pastoral em seu modo de governar a população. Conclui-se com a hipótese de que na estética do tempo instituída pelo regime civil-militar pode ser encontrada uma estratégia política de sacralização.
Downloads
Detalhes do artigo
Submeto (emos) o presente trabalho, texto original e inédito, de minha (nossa) autoria, à avaliação de Horizonte - Revista de Estudos de Teologia e Ciências da Religião, e concordo (amos) em compartilhar esses direitos autorais a ele referentes com a Editora PUC Minas, sendo que seu “conteúdo, ou parte dele, pode ser copiado, distribuído, editado, remixado e utilizado para criar outros trabalhos, sempre dentro dos limites da legislação de direito de autor e de direitos conexos”, em qualquer meio de divulgação, impresso ou eletrônico, desde que se atribua créditos ao texto e à autoria, incluindo as referência à Horizonte. Declaro (amos) ainda que não existe conflito de interesse entre o tema abordado, o (s) autor (es) e empresas, instituições ou indivíduos.
Reconheço (Reconhecemos) ainda que Horizonte está licenciada sob uma LICENÇA CREATIVE COMMONS - ATTRIBUTION 4.0 INTERNATIONAL (CC BY 4.0):
Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.
Por isso, PERMITO (PERMITIMOS), "para maximizar a disseminação da informação", que outros distribuam, remixem, adaptem e criem a partir do seu trabalho, mesmo para fins comerciais, desde que lhe atribuam o devido crédito pela criação original.
Referências
ADORNO, Theodor W. La técnica psicológica de las alocuciones radiofónicas de Martin Luther Thomas. In: ADORNO, Th. W. Escritos sociológicos II – vol.1 (Obra completa 9/11). Madrid: Editora Akal, 2009, p.8-146.
ANKERSMIT, Frank R. Sublime historical experience. Stanford, CA: Stanford University Press, 2005.
ARENDT, Hannah. Sobre a revolução. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
AZEVEDO, Thales de. A religião civil: introdução ao caso brasileiro. Religião e Sociedade, Rio de Janeiro: ISER, n. 6,
p.69-89, 1980.
BELLAH, Robert. Civil religion in America (1966). In: BELLAH, R. Beyond Belief. 2. ed. Berkeley: California Press,
, p.168-189.
BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. In: BENJAMIN, W. Magia e Técnica, Arte e Política. São Paulo: Brasiliense, 1985, p. 141-168.
BHABHA, Homi. O local da Cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998.
CASTRO, Celso. Exército e nação: estudos sobre a história do exército brasileiro. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2012.
CERTEAU, Michel de. Le croyable, ou l’instituition du croire. Semiotica, v. 54, n.1-2, p.251- 266, 1985.
COELHO, Edmundo. Em busca de identidade: o exército e a política na sociedade brasileira. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1976.
ESPOSITO, F E BECKER, T. The times of politics, the politics of time and politicized time. History and Theory, Wesleyan Universty (UK), v. 63, n.4, p.3-23, dez. 2023.
FERNANDES, Florestan. A ditadura em questão. São Paulo: T.A. Queiroz Editor, 1982.
FICO, Carlos. Além do golpe: versões e controvérsias sobre 1964 e a ditadura militar. Rio de Janeiro: Editora Record, 2014.
FOUCAULT, Michel. Segurança, Território, População. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
GIRARDET, Raoul. Mitos e mitologias políticas. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
GODOI, Rodrigo T. Teoria da memória: diálogo transdisciplinar e metahistória. In: PASSOS, A. A.; BENTO, L. C.;
GODOI, R. T. Historiografia crítica- ensaios, analítica e hermenêutica da História. Vitória: Editora Milfontes, 2020, p.161-230.
GREIMAS, A. J. e COURTÉS, J. Dicionário de semiótica. São Paulo: Cultrix, 1989.
HARMER, Tanya. The Cold War in Latin America. In: KALINOVSKY, Artemy; DAIGLE, Craig (eds.). The Routledge Handbook of the Cold War. New York: Routledge, 2014. p.133-148.
HARTOG, François. Evidência da História: o que os historiadores veem. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2011.
HERVIEU-LÉGER, Danièle. La religion pour mémoire. Paris: Le Cerf, 1993.
HUNT, Lynn. Globalisation and time. In: LORENZ, C. e BEVERNAGE, B. (ed.). Breaking up time: negotiantin the borders between present, past and future. Gottigen-DE: Vandenoeck e Ruprecht, 2013, p.199-215.
KOSELLECK, Reinhart. Futuro passado: contribuições à semântica dos tempos históricos. Rio de Janeiro: Editora PUC Rio, 2006.
KOSELLECK, Reinhart. Historia/historia. 2 ª ed. Madrid: Editorial Trotta, 2010.
LENHARO, Alcir. Sacralização da política. São Paulo: Papirus, 1986.
MAUSS, Marcel. Sociologia e antropologia. São Paulo: Cosac & Naify, 2003.
MÉDICI, Presidente. Nova consciência de Brasil. Brasília: Imprensa Nacional, 1973.
MUSSOLINI, Benito. La doctrina del Fascismo. Madrid: Lebooks Editora, s/d.
PIO XI. Non abbiamo bisogno (1931). In: Documentos de Pio XI. São Paulo: Editora Paulus, 2004.
QUADROS, Eduardo G. Deus acima de todos? A construção teo-política na crise das democracias. Revista Brasileira de História das Religiões, XIII, n. 37, p. 59-75, mai-ago. 2020.
REES, John. Religion, populism and dynamics of nationalism. Religion, State and Society, v.49. n.3, p.195-210, 2021.
REIS, Daniel A. A ditadura faz cinquenta anos: história e cultura política nacional estatista. In: REIS, D. A.; RIDENTI,
M.; MOTTA, R. P. S. (Orgs.). A ditadura que mudou o Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2014.
RICOEUR, Paul. Memória, História, Esquecimento. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2007.
RIVIÈRE, Claude. As liturgias políticas. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1989.
ROUSSEAU, Jean-jacques. Do contrato social. São Paulo: ebooksBrasil, 2001.
SANCHEZ, Wagner L. e ARRUDA, Glair A. Novas faces do cristofascismo no governo de Jair Bolsonaro. Revista
Eclesiástica Brasileira, v. 80, n. 316, p.353-372, mai-ago. 2020.
SCHMITT, Carl. Teologia política. Belo Horizonte: Editora Del Rey, 2006.
SCHWARCZ, Roberto. A lata de lixo da História. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.
SILVA, Hélio. 1964: golpe ou contragolpe?. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975.
SILVA. Wellington T. e SILVA, Alexandre S. Thales de Azevedo e a religião civil brasileira. Paralellus, v. 13, n. 32,
p.125-137, jan.-jul. 2022.
TRAVERSO, Enzo. As novas faces do Fascismo. São Paulo: Editoria Ayné, 2021.
TRAVERSO, Enzo. O passado, modos de usar. Lisboa: Editora Unipop. 2012.
VIDAL-NAQUET, Pierre. Les assassins de la mémoire. Paris: La Découverte, 1987.