“Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”: espiritismo e política no Estado Novo

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Ricardo Toshio Bueno Hida
Suzana Ramos Coutinho

Resumo

O presente artigo procura analisar a influência da obra “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, psicografada por Chico Xavier, como capital simbólico que permitiu a Federação Espírita Brasileira se qualificar como porta-voz do espiritismo kardecista no Brasil junto ao governo de Getúlio Vargas em 1938 e marcar a presença da religião criada por Allan Kardec junto ao governo brasileiro. Em um momento de forte influência da Igreja Católica, representada na pessoa do Cardeal Leme, resgatando a influência e poder perdidos na Proclamação da República, espíritas se uniram a protestantes para defender a laicidade do Estado e garantir a liberdade de culto. O espiritismo no Brasil, diferentemente do que aconteceu na França, ganhou espaço nas primeiras décadas do século XX com curas espirituais. No início dos anos 1930, por conta de acusações de curandeirismo, os espíritas deixaram de lado as curas, investindo em obras assistenciais e literatura consoladora. Pode-se considerar o livro de Chico Xavier mais que uma teologia de narrativa espírita; o livro foi parte importante na construção do mito fundador da nação brasileira em um momento histórico de forte nacionalismo, e serviu de ferramenta essencial em uma disputa por espaço no campo religioso brasileiro no Estado Novo.

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Como Citar
HIDA, Ricardo Toshio Bueno; COUTINHO, Suzana Ramos. “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”: : espiritismo e política no Estado Novo. HORIZONTE - Revista de Estudos de Teologia e Ciências da Religião, Belo Horizonte, v. 22, n. 67, p. e226709, 2024. DOI: 10.5752/P.2175-5841.2024v22n67e226709. Disponível em: https://periodicos.pucminas.br/horizonte/article/view/31915. Acesso em: 9 ago. 2025.
Seção
Artigos/Articles: Dossiê/Dossier
Biografia do Autor

Ricardo Toshio Bueno Hida, PUC São Paulo

Doutorando e Mestre em Ciência da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo- PUC com a dissertação: Rituais online- fermento para espiritualidade do self e a novaerização das religiões. Graduado em administração de empresas pela FAAP e especialização em Comunicação pela Faculdade Cásper Líbero. Autor dos livros "Guia para quem tem Guias- Desmistificando a Umbanda" e em 2022 "Laroyê Exus e Pombagiras", ambos pela Editora Alfabeto. Colunista do jornal Brasilturis e do Portal Panrotas sobre turismo religioso.Apresentador do programa diário Encontro Astral na Vibe Mundial, 95,7 FM.Organizador do Fórum de Turismo e Espiritualidade. Pesquisador do NEO, PUC-SP.

Suzana Ramos Coutinho, PUC São Paulo

Pós-doutora em Antropologia Social pela University of Cambridge (2013), Ph.D. em Estudos da Religião pela Lancaster University, Inglaterra (2009), possui mestrado em Antropologia Social pela Universidade Federal de Santa Catarina (2004) e graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Santa Catarina (2000). É fotógrafa profissional pelo SENAC São Paulo e especialista em Fotografia como Arte Contemporânea pelo SENAC São Paulo. É professora e vice-coordenadora do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciência da Religião da PUC/São Paulo e professora Assistente Doutor I da Universidade Presbiteriana Mackenzie, atuando como docente no Programa de Pós-graduação em Educação, Arte e História da Cultura da mesma universidade. Faz parte da equipe editorial da REVER (Revista de Estudos da Religião) e é editora temática da Revista TRAMA, na seção de História da Cultura. É sócia-efetiva da ABA (Associação Brasileira de Antropologia), membro da ISSR (International Society for the Sociology of Religion) e membro da IVSA (International Visual Sociology Association). É líder do grupo de pesquisa CEMI - Centro de Estudos Interdisciplinares sobre Migração e Imagem. Mãe de duas filhas, esteve em licença maternidade em 2016 e 2020. Tem experiência na área de Antropologia da Religião e Antropologia Visual, com ênfase em Religião, Migração, Fotografia e Gênero, atuando principalmente nos seguintes temas: antropologia visual, fotografia, religião, migração e diáspora, migração e gênero, missões e estratégias missionárias, religiões orientais no Brasil.

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