“Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”: espiritismo e política no Estado Novo
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Resumo
O presente artigo procura analisar a influência da obra “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, psicografada por Chico Xavier, como capital simbólico que permitiu a Federação Espírita Brasileira se qualificar como porta-voz do espiritismo kardecista no Brasil junto ao governo de Getúlio Vargas em 1938 e marcar a presença da religião criada por Allan Kardec junto ao governo brasileiro. Em um momento de forte influência da Igreja Católica, representada na pessoa do Cardeal Leme, resgatando a influência e poder perdidos na Proclamação da República, espíritas se uniram a protestantes para defender a laicidade do Estado e garantir a liberdade de culto. O espiritismo no Brasil, diferentemente do que aconteceu na França, ganhou espaço nas primeiras décadas do século XX com curas espirituais. No início dos anos 1930, por conta de acusações de curandeirismo, os espíritas deixaram de lado as curas, investindo em obras assistenciais e literatura consoladora. Pode-se considerar o livro de Chico Xavier mais que uma teologia de narrativa espírita; o livro foi parte importante na construção do mito fundador da nação brasileira em um momento histórico de forte nacionalismo, e serviu de ferramenta essencial em uma disputa por espaço no campo religioso brasileiro no Estado Novo.
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