A SOLICITUDE LIBERTADORA NO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO DE ADOLESCENTES NA ESCOLA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Autores

  • Marcela Andrade UFMG
  • Paulo Evangelista UFMG

Palavras-chave:

Acompanhante terapêutico, Inclusão escolar, Fenomenologia, Relato de experiência

Resumo

Este relato visa discutir a prática do Acompanhamento Terapêutico (AT) em escolas, com base na experiência de estágio da autora, acompanhando dois alunos em um colégio particular ao longo de um ano letivo. Os acompanhados foram uma estudante de 14 anos, diagnosticada com Transtorno Opositor Desafiador (TOD) e Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), e um aluno de 15 anos, diagnosticado com autismo e esquizofrenia. A narrativa busca fazer um relato de experiência dessa atuação como AT e das relações estabelecidas com esses alunos, trançando-as com a literatura científica psicológica fenomenológica que versa sobre a relação de cuidado que se dá entre a profissional da psicologia e o(a) adolescente acompanhado,  para refletir sobre as técnicas tradicionais de acompanhamento terapêutico em comparação com uma atenção singularizada focada na relação humana, tal como preconizada pela psicologia fenomenológica. Os relatos mostram dois modos de se estar com as existências assistidas: a preocupação substitutiva e a solicitude libertadora. No modo da preocupação substitutiva, identifica-se o problema a ser resolvido - o comportamento disruptivo em sala de aula, o baixo desempenho escolar - e busca-se soluções para esses problemas. Entretanto, foi descoberto, ao se adotar a atitude de solicitude libertadora, que a relação pessoal singular preservou a autonomia destes alunos, e estimulou posicionamentos criativos que contradizem os diagnósticos. Nesse sentido, esse modo de cuidado foi favorecedor de um existir mais autêntico, que abre novas perspectivas de futuro para esses jovens. Consideramos que compartilhar esta experiência pode contribuir para que mais profissionais se coloquem abertos a se aproximar das existências que estão acompanhando antes de colocar-se com elas como problemas a resolver. Ademais, esperamos que estas reflexões forneçam exemplos de prática psicológica fenomenológico-existencial em contexto escolar.

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Biografia do Autor

Marcela Andrade, UFMG

Estudante de Psicologia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),  cursando o 10° período. Atualmente buscando aprofundamento na área de Psicologia Fenomenológica -Existencial, com ênfase na prática clínica de psicoterapia. Experiência com plantão psicológico; estágios em psicoterapia; monitoria acadêmica; pesquisa fenomenológica e aconselhamento psicológico de crianças e adolescentes. Estudante ativa em congressos e palestras da área da Psicologia, e também das demais atividades ofertadas pela universidade, como eventos multidisciplinares, formações transversais e projetos de extensão. 

Paulo Evangelista, UFMG

Professor Adjunto do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FAFICH) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) desde 2019. Coordenador do Curso de Especialização em Psicologia Clínica: Análise Existencial e Gestalt-Terapia da UFMG. Doutor em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela USP, Mestre em Filosofia e graduado em Psicologia pela PUC-SP. Trabalhou como psicoterapeuta em consultório particular de 2002 a 2019. Tem experiência na área de Psicologia Clínica, com ênfase em psicologia fenomenológico-existencial e Daseinsanalyse. Atua principalmente nos seguintes temas: Daseinsanalyse, psicologia fenomenológico-existencial e psicoterapia. Autor de artigos e capítulos e organizador de livros sobre psicologia fenomenológico-existencial e autor de Psicologia Fenomenológica Existencial - A Prática Psicológica à luz de Heidegger (Ed. Juruá, 2016). Coordenador do GT96 da ANPEPP "Psicologia Fenomenológico-hermenêutica e questões contemporâneas". Foi professor na Universidade Paulista (UNIP) de Psicologia Humanista e Psicologia Fenomenológica e supervisor clínico, sendo também responsável (líder de disciplina) pela elaboração dos planos de ensino e de apostilas para auto-avaliação dos alunos (2008 - 2016). Foi professor substituto no curso de Psicologia da PUC-SP. Foi membro voluntário do Laboratório de Estudos em Fenomenologia Existencial e Prática em Psicologia (LEFE) do Instituto de Psicologia da USP (2012 - 2016). Editor científico da Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia (Qualis A3).

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Publicado

2025-06-08

Como Citar

ANDRADE, Marcela; EVANGELISTA, Paulo. A SOLICITUDE LIBERTADORA NO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO DE ADOLESCENTES NA ESCOLA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA. Pretextos - Revista da Graduação em Psicologia da PUC Minas, Belo Horizonte, v. 9, n. 18, p. 91–110, 2025. Disponível em: https://periodicos.pucminas.br/pretextos/article/view/32553. Acesso em: 13 ago. 2025.

Edição

Seção

Artigos de temática livre